Por que o co-fundador da Movile deixou a empresa para investir em startups?

Por: Heitor Facini5 Minutos de leituraEm 19/04/2018Atualizado em 27/11/2019

O investimento anjo no Brasil vem contrariando alguns prognósticos. Segundo a Anjos do Brasil, organização não governamental, houve um crescimento de 9% na modalidade investimento no ano de 2016. Foi o segundo ano seguido em alta, já que em 2015, os números tinham aumentado 11%. Ao todo, o investimento anjo no Brasil chegou a R$ 851 milhões no final de 2016. Nesse mesmo período, houve duas quedas no PIB nacional, com 3,6% em 2016 e 3,8% em 2015.

Mas como o mercado de tecnologia chama tanta atenção para investimentos mesmo com toda a economia em crise? De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups, a ABStartups, de 2012 a 2016 o número de empresas associadas quase dobrou, saltando de 2.519 a 4.273. A estimativa é que existam mais de 10 mil startups no Brasil.

Muitas dessas empresas estão inseridas no mercado de software que, mesmo com a economia em retração, acabou tendo um crescimento considerável. De acordo com dados do instituto Gartner, em 2017 o setor cresceu 8,5%. A perspectiva para 2018 é mais otimista com previsão de crescimento de 9,4%.

Entretanto, no meio de tantas startups, o que vai atrair o investidor para o aporte de capital? “Investidores anjo não resistem à tração”, lembrou Fábio Póvoa, Managing Director da Smart Money Ventures, fundo de investimento estratégico localizado em São Paulo. “Para mim, tem que ter passado da fase da ideia, ter criado um bom produto ou serviço, ter validado no mercado e conseguir trazer clientes em escala para a empresa”.

Fábio lembra que a empresa que busca o investimento tem de fazer sentido com a tese do fundo. Por exemplo, ele procura empresas voltadas para o mercado de fintechs (startups de tecnologia voltadas à finanças), edtechs (startups de tecnologia voltadas à educação), viagem e turismo, mobilidade urbana e SaaS B2B (business to business ou que venda para outras empresas). “O time tem de estar bem estruturado também. Tem de entender bem quem é o hustler (negócios), o hyper (marketing), o hipster (designer) e o hacker (desenvolvimento)”, adicionou. “Por isso, com todas essas restrições, a gente acaba fazendo apenas de 3 a 4 investimentos por ano. Procuramos investir em qualidade e não quantidade”.

Nova call to action

Após realizado o aporte de capital, o trabalho do investidor anjo acaba se tornando cada vez mais pontual. “Como o investimento é feito em startups maduras que estão tracionando, normalmente eu não preciso fazer muita coisa dentro da empresa”, lembrou. “Eu faço uma orientação estratégica, dou um pouco de toque falando sobre gestão ou prospectando talentos. As coisas cotidianas já estão bem resolvidas”.

A participação mais ativa acontece depois de 8 a 12 meses, quando a startup vai buscar outra rodada de investimentos. “Você começa a ter que se posicionar, colocar outros Venture Capitals para receber as propostas e achar o melhor fit para você”, explicou. “Aí você orienta quanto a particularidades de term sheets e termos de investimento”.

Fábio fala sobre isso porque conhece bem o dia a dia de uma startup. Em 2001 ele fundou a Movile, empresa que desenvolve soluções para mobile. Hoje em dia, ela expandiu seus serviços e controla negócios como iFood, PlayKids, Rapiddo e Sympla.

Ele ficou na empresa até o ano de 2012, quando deu exit na sua participação. Segundo ele, foi mais fácil do que parece e não se arrepende em nenhum momento da sua decisão. “A Movile já deixou de ser uma startup faz um tempo e hoje é uma grande empresa com mais de 1000 funcionários”, explicou. “Eu sempre gostei de processos mais leves e ágeis. Prefiro muito mais pegar negócios pequenos e transformá-los em grandes do que gerir um negócio que já está grande. Esse, pra mim, é o filé do empreendedorismo, a parte mais estratégica”.

Esses mais de 10 anos lhe renderam muita experiência e conhecimento agregado. Um deles foi o de saber a hora de descartar alguma ideia. “Existiram vários projetos dentro da Movile que eram bons mas não vingaram. Algumas vezes eles não tinham o market-fit. Em outras até tinham, mas outras ideias davam mais certo e a gente as priorizava”, explicou. “Muita gente vê o PlayKids, o iFood e tudo que funcionou, mas não olham para os projetos que não deram resultado”.

Todo esse conhecimento é compartilhado com os alunos da Unicamp através de uma disciplina de Lean Startup. “Na minha formação em engenharia da computação, eu sentia falta de disciplinas de gestão. O máximo que tinha era contabilidade e isso não é o bastante. Na Movile, o que a gente aprendeu foi tudo na porrada”, afirmou. “Comentei isso com o diretor do curso na Unicamp e ele me disse: ‘por que você não vem aqui ensinar?’. Assim, eu peguei o material do Lean Startup, movimento organizado pelo Steve Blank, e adaptei. O resultado está sendo super positivo. Unir o meio acadêmico com o empreendedorismo tem a possibilidade de mudar o mercado nacional”.

Fábio é um dos mais de 60 palestrantes do Superlógica Xperience 2018, maior evento de Assinaturas e SaaS da América Latina. André Baldini, CEO da Superlógica, bateu um papo com ele sobre a trajetória dele e o mercado de investimentos nacional.

Ele é o nono dos participantes da segunda temporada do Podcast do Xperience, que vai ao ar toda a quinta-feira até a data do evento. Não se esqueça de se inscrever no nosso Soundcloud e no iTunes, para receber com antecedência as novidades do podcast. Semana que vem a entrevista será com Lilian Klemz, da Resultados Digitais, e Renato Guimarães, da Arquivei.

Podcast #Xperience S02E09 – Fábio Póvoa

O que você vai ouvir neste podcast:

1:40 – Início da trajetória empreendedora de Fábio Póvoa;

2:50 – Saída da Movile e continuar empreendendo, só que como investidor;

4:31 – Como começou a pré-Movile, a IntraWeb. Partiu muito do processo de se afastar do meio acadêmico e entrar no mundo do empreendedorismo;

6:00 – Depois de atuar muitos anos como software house, perceberam que podiam criar produtos e virar uma empresa que os oferecesse. Assim surgiu o embrião da Movile;

7:02 – Como identificar ideias que pudessem ser mortas? Projeto da Ultragás e de internet acessível em favelas;

8:25 – “A gente matava ideias que não tracionavam o que a gente esperava ou tracionavam menos que outras criadas na mesma época”;

9:20 – “O que todo mundo olha na Movile é o que deu certo. Mas ninguém vê as ideias que foram experimentadas e acabaram não continuando”;

9:50 – O processo de desligamento da Movile;

10:15 – “A Movile hoje com mais de 1000 funcionários se transformou em uma grande empresa. Pode ser Lean e ágil, mas tem os processos de uma grande empresa”;

11:00 – “Experimentar a cultura do Vale do Silício é um estado de espírito”;

11:55 – Não se arrepende em nenhum momento dessa decisão;

12:10 – O que ele procura na hora de investir em uma empresa SaaS?;

14:54 – Sempre engaja experts do mercado para tentar validar a ideia da startup;

15:30 – “Queremos fazer poucos deals por ano para fazer com alta qualidade”;

16:15 – Explica qual atuação que tem depois do investimento. “Por incrível que pareça, as melhores startups que investi precisaram de muito pouco”;

17:40 –  O engajamento do investidor anjo fica mais ativo depois que a startup está procurando mais investidores;

18:50 – Importância de juntar o empreendedorismo com o meio acadêmico;

Confira todos os nossos episódios!



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