Por que empresas argentinas já nascem internacionais e brasileiras não?

Por: Heitor Facini5 Minutos de leituraEm 03/05/2018Atualizado em 27/11/2019

Depois de muita espera, em 2018 o Brasil conheceu os seus primeiros unicórnios. Para quem não sabe, unicórnio é aquela empresa que atingiu um valuation de US$ 1 bilhão no mercado. Três organizações entraram para esse rol mágico das grandes empresas mundiais. A fintech Nubank por meio de avaliação de mercado, a adquirente multibandeira PagSeguro por meio da IPO (oferta pública inicial) e a startup de mobilidade urbana 99 vendida para a gigante chinesa Didi.

Mas, mesmo que apenas em 2018 os primeiros unicórnios tenham desabrochado, o mercado brasileiro já tem uma relação de longa data com esses “seres místicos”. Duas das empresas mais populares do país são unicórnios: o Mercado Livre e a OLX. Ambas vêm da Argentina, mas devem muito ao Brasil este título.

O faturamento do Mercado Livre em 2016 foi de US$ 844,4 milhões. Desse montante, US$ 455 milhões vem do Brasil, aproximadamente 54% do total. A OLX, mesmo não revelando números de faturamento, mostra que aqui é um importante mercado para eles. Em 2016, a empresa movimentou através do seu sistema mais de R$ 81,9 bilhões em compras.

Além deles, a Decolar.com e a Globlant são outros unicórnios argentinos. Como um país que tem uma população de 43 milhões de habitantes e uma economia bem menor consegue fazer mais empresas bilionárias do que um país com 207 milhões? A Argentina pensa em ser muito maior que o seu próprio mercado.

“Duas dessas empresas, Mercado Livre e OLX, não seriam unicórnios se não fossem o Brasil”, comentou Alejandro Vazquez, CCO e co-fundador da Nuvem Shop. “Normalmente, as empresas argentinas já nascem olhando para mercados internacionais maiores que os deles, principalmente do Brasil. Para as startups brasileiras, o mercado local já é o bastante”.

Nova call to action

A Nuvem Shop tem a mesma ideia que as outras empresas argentinas que pensam global. Desde o princípio da sua fundação, a startup tem a mentalidade Brazil First (Brasil primeiro) na sua maneira de tocar os negócios. “Nós imaginávamos que poderíamos ajudar mais negócios aqui do que na Argentina ou no resto da América Latina”, explicou Alejandro.

A empresa oferece uma solução de e-commerce para empreendedores de pequenas e médias empresas que querem desenvolver uma loja virtual. Segundo Alejandro, mesmo com alguns players no mercado brasileiro, “não tinha nenhuma solução que tornava simples o ato de montar e administrar uma loja virtual”. Além disso, junta-se ao fato de que o mercado de varejo ainda não entrou para o mundo digital. “Na América Latina, apenas 6% do varejo é online. Na China, esse número mais que dobra e vai para 15%. Não tem escapatória, o futuro do varejo é digital”, conclui.

Com o passar do tempo, a estratégia de criação de funcionalidades foi mudando. Inicialmente, quando surgia alguma inovação, ela era primeiro testada e validada na Argentina e depois partia para o mercado brasileiro. O resultado disso? Não deu certo. A cultura de ambos países faz com que uma coisa que funciona lá não necessariamente funciona aqui. Por isso a Nuvem Shop passou a ter times locais dedicados a cada mercado em que atua.

“Mesmo que sejamos de países próximos, muda o idioma, o jeito de comprar, o jeito de tratar as pessoas e o jeito de fazer negócios. Por isso, todo a nossa equipe tem aulas de português, por exemplo. Além disso, todo mundo, independentemente da área, passa algumas horas do mês respondendo algumas perguntas dos clientes”, comentou Alejandro. “Assim, entendemos por qual motivo eles procuram a Nuvem Shop e quais são as oportunidades. Essa estratégia sozinha não significa nada. Mas juntas ajudam a entender um pouco o universo do cliente”.

Com essa diferença e aprendizado, Alejandro entendeu algumas coisas. A primeira é que os brasileiros têm uma tendência bem maior que os argentinos de reclamar quando algo não está bom. “Isso se deve ao fato de que, por muito tempo, os brasileiros não tiveram serviços de qualidade. Isso cria uma insegurança, um medo de que ele não entregue realmente aquilo que oferece”, explicou. “Isso também cria uma oportunidade de você se diferenciar do atendimento que se encontra no mercado”.

Isso acabou dando certo para a Nuvem Shop. Nesses sete anos de mercado, já foram criadas mais de 500 mil lojas na plataforma. Hoje em dia, a empresa movimenta através das lojas criadas pela a solução mais de R$ 370 milhões por ano.

Com todo esse aprendizado, Alejandro acredita que a principal lição a ser retirada para entrar em um outro mercado é entender aquele lugar. “Crie um time local para que eles te mostrem aquilo que você não está enxergando”, afirmou. “Entenda o que eles te passam, crie uma solução que resolva aqueles problemas e abrace o feedback que o seu cliente dá. Não é uma fórmula mágica, mas ajuda a resolver as coisas com o passar do tempo”.

Alejandro é palestrante do Superlógica Xperience 2018, maior evento de assinaturas e SaaS da América Latina. Amanda Camasmie, líder de marketing da Superlógica, e Heitor Facini, redator do blog da Superlógica, bateram um papo com ele sobre a trajetória dele e o mercado de investimentos nacional.

Ele participa do décimo primeiro episódio da segunda temporada do Podcast do Xperience, que vai ao ar toda a quinta-feira até a data do evento. Não se esqueça de se inscrever no nosso Soundcloud e no iTunes, para receber com antecedência as novidades do podcast. Semana que vem a entrevista será com Andrei Gurgel, Alda Rocha e Daniel Furtado sobre Experiência do Usuário.

Podcast #Xperience S02E11 – Alejandro Vazquez

1:40 – O que é o Nuvem Shop e como Alejandro começou sua trajetória;

3:20 –  O porquê da Nuvem Shop ter uma plataforma focada no Brazil First (Brasil primeiro);

4:30 – Todo o time da Argentina tem aula de português e toda a empresa passa algumas horas do mês respondendo clientes;

6:30 – A linguagem de como se comunicar com os clientes, não importa o país, é a mesma. Mas mesmo assim, existem diferenças;

7:10 – “O brasileiro tem mais a tendência de reclamar quando algo está errado. Isso é bom”;

8:00 – “Dar um bom atendimento é uma forma de se diferenciar no mercado”;

9:05 – Os aprendizados de trazer a Nuvem Shop da Argentina para o Brasil;

10:10 – É muito importante passar um tempo com um time local e passar tempo com os clientes para aprender;

11:20 – Os unicórnios da Argentina. “Dois não seriam se não fosse o Brasil (OLX e Mercado Livre);

12:55 – Por que o Brasil não tem tantos unicórnios? Startups brasileiras só pensam no local e não no global. Na Argentina isso é diferente;

13:45 – O principal não é ver quantos unicórnios cada país tem e sim quantos negócios sustentáveis são possíveis;

14:20 – “As empresas já estão gerando um melhor ecossistema e trazendo benefícios para a vida das pessoas”;

15:30 – “Os negócios precisavam vender on-line e mostrar a marca de maneira mais simples”;

17:00 –  O futuro do varejo é online. E menos de 6% do varejo na América Latina é;

18:19 – É muito mais fácil para os nativos digitais conseguirem lidar com marketing;

19:50 – Startups ajudam na parte de logística e envios;

20:20 – Principais dicas para quem pensa em empreender em outros países;

22:00 – Precisa entender o mercado local, eles são muito diferentes mesmo que sejam de outros países;

Confira todos os nossos episódios!



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