O que é o pagamento instantâneo? Como ele vai funcionar?

Por: Heitor Facini6 Minutos de leituraEm 26/09/2019Atualizado em 27/11/2019

De acordo com pesquisa da Wipro Digita, 92% dos CEOs brasileiros entrevistados estão alinhados com o propósito da transformação digital. Entrando bastante no mercado de mobilidade urbana, entrega de comida, mercado imobiliário e consumo de conteúdo, o próximo mercado a ser transformado é o dos meios de pagamentos eletrônicos, com a institucionalização do pagamento instantâneo e o desuso cada vez maior do dinheiro em espécie.

“Transformação, no setor de pagamento, não é só transformar o plástico em digital”, alertou Carlos Netto, CEO da Matera. “Não é apenas a criação de uma nova tecnologia. É mudar a mentalidade! É como foi com o aluguel de imóveis e pedido de comida, muito mais amplo do que simplesmente transportar do fax para o e-mail”. 

Segundo o Boston Consulting Group, em 2028, o mercado de meios de pagamento pode chegar perto de US$ 2,5 trilhões. O crescimento vai ser puxado pela China, que implementou tecnologias de pagamento instantâneo com o Wechat e o Alipay. 

“Mas pagamento instantâneo não é apenas pagamento pelo celular cadastrando um cartão de crédito. Isso só mata o plástico e cria um intermediário a mais”, lembrou Carlos Netto. 

Ele discutiu sobre o assunto na palestra “Como a transformação digital está mudando as formas de pagamentos” durante o Superlógica Xperience 2019. Você pode conferi-la no vídeo abaixo ou durante todo o artigo.

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Como funciona o cartão de crédito?

“A gente não destrói uma coisa sem saber o que ela faz”, declarou Carlos Netto. Por isso, é importante entender o que o pagamento instantâneo vem para substituir: o cartão de crédito. 

A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS) estima que 96% das pessoas entre 18 e 55 anos que vivem em cidades com mais de 100 mil habitantes usam o cartão de crédito todo mês, 55% todos os dias. Ao todo, essa modalidade transacionou R$ 965,5 bilhões em 2018 (dados da mesma ABECS). 



“O cartão de crédito é uma conta bancária que começa com o saldo 0 e, conforme você gasta, o saldo fica negativo”, explicou Netto. “No final do período de 1 mês, se você pagar no prazo, não têm juros e ainda ganha milhagem. Traz bastante conveniência, já que não precisa realizar o pagamento a cada compra. Só um grande boleto bancário”.

Se o usuário não pagar em dia, o lojista não sai no prejuízo. “O banco emissor vai honrar o pagamento pois ele assumiu o risco do crédito”, explica. É o risco padrão em uma operação de crédito que surge quando o mutuário não é capaz de honrar as dívidas compromissadas. 

O banco emissor é o principal fator no ecossistema, mais que a bandeira que emite o cartão para a loja. Sem ele, a operação não ia existir”, lembra. 

Mas, mesmo assim, as bandeiras têm papel importante no processo. “Elas são globais! Se você for aos Estados Unidos, eles não vão conhecer Itaú, mas vão conhecer a Visa. E ela ainda faz o câmbio da conversão de moedas”, afirma. 

Além disso, a bandeira tem mecanismos de seguro de crédito e cartas fiança que garantem também que o lojista irá receber no final. “A legislação atual faz com que o empresário não seja penalizado mesmo se o banco quebrar. E é bom que bancos quebrem! Mas se não houvesse essa proteção, todos seriam levados no processo”. 

Ou seja, o cartão oferece um serviço interessante e bem complexo. “É bom, mas dá para fazer diferente e melhor”, afirmou o CEO da Matera.

Como o Banco Central do Brasil vem possibilitando a implementação do pagamento instantâneo?

Antes de entrar a fundo para explicar como funciona o pagamento instantâneo, é importante lembrar como o Banco Central vem possibilitando isso acontecer no Brasil. “Quem acha que órgão regulador combina com inovação?”, brincou Netto. “Regulador é aquele que tira a sua criatividade e faz com que você não consiga pensar diferente”. 

Mas o Banco Central é diferente, segundo Carlos. “Em 2013, eles criaram uma legislação que libertou todo mundo da prisão e ninguém se tocou ainda. É como se o mercado estivesse tão bitolado e estressado que ninguém percebeu e não conseguisse sair dela”. 

A legislação que Netto comenta é o inciso III do art. 6º da Lei 12.865, de 2013, que definiu os sistemas de arranjo de pagamento. 

Segundo o Banco Central, arranjo de pagamento é “conjunto de regras e procedimentos que disciplina a prestação de determinado serviço de pagamento ao público aceito por mais de um recebedor, mediante acesso direto pelos usuários finais, pagadores e recebedores.

Instituições de pagamento são “pessoa jurídica que, aderindo a um ou mais arranjos de pagamento, tenha como atividade principal ou acessória, alternativa ou cumulativamente”. 

“Você pode abrir um ‘bank’ sem autorização prévia”, resumiu Carlos. “Só depois que ele ganhar escala e volume, que o Banco Central vai te fiscalizar. A premissa é simples: se você falir antes, o mercado não aprovou sua existência. O contribuinte não achou um serviço válido, então são será gasto dinheiro dele para tal finalidade”. 

Entretanto, existe pouca gente utilizando por conta de “um bloqueio cultural. Focamos muito em cartão! Esquece o cartão, ele é apenas um intermediário”.

Além disso, o Banco Central está criando grupos de discussões para a criação de um sistema de pagamentos instantâneos. 

“A Matera faz parte com uma cadeira da sociedade civil”, contou. “Temos diversas instituições financeiras participando e a ideia é todo mundo discutir. A palavra final é deles, mas eles ouvem todo mundo”. 

O pagamento instantâneo vai cortar intermediários

O pagamento instantâneo permitirá conectar diretamente as duas pontas: quem paga e quem recebe. “Através desse sistema, não vão existir intermediários. O lojista vai receber na hora! Não existe a possibilidade do calote acontecer”, explicou Carlos Netto. 

O processo, como um todo, também vai ficar mais barato já que não existe mais a necessidade de utilização de garantias bancárias. 

“Vai ser construída uma espécie de ‘bandeira open source’. Diversas empresas poderão atuar como instituição de pagamento, facilitando o processo. Através do app de um banco, você poderá pagar uma conta de outro”. 

Isso poderá ser feito tanto para contas bancárias, como não-bancárias, ou seja, daquelas instituições que não são necessariamente um banco. “Por exemplo, hoje temos varejistas, como as Lojas Pernambucanas, que tem emitido o próprio boleto”. 

“Conta-corrente não é mais monopólio de banqueiro! Toma o exemplo do eBay, que abriu o PayPal. Hoje, o segundo vale 3 vezes mais que o primeiro!”. Empresas que transacionam altas quantidades de valores podem criar a sua própria fintech e, consequentemente, sua própria conta

“O que acontece, hoje em dia, são grandes empresas com 1 milhão de vendedores trabalhando diretamente para os bancos”, exemplificou. 

Como ele funcionará na prática

Carlos deu exemplos de como o método funcionaria na prática: 

  • Se você for pagar o IPTU, é só depositar na conta da prefeitura junto com um JSON com as informações corretas;
  • Se você precisa recarregar o celular, é só depositar na conta da operadora ao lado da informação do número do celular;
  • Se você for pagar aula de inglês, só depositar na conta da instituição de ensino junto com o número de matrícula.

Pagar é só enviar o dinheiro, de uma ponta a outra. Não precisa de tantos frameworks diferentes, como boleto e cartão de crédito! Prefeitura gasta uma nota para receber IPTU, empresa de celular para receber recarga também. Tudo vai se baratear”, explicou. 

O pagamento instantâneo deve realizar as transações em tempo real, 24 horas por dia, 7 dias por semana. “Não precisa ser mais em horário comercial como hoje. A moda é o QR Code, mas não precisa ser dessa forma”. 

A internet e o celular são o canal para fazer funcionar

Segundo o CEO da Matera, os canais para fazer funcionar isso é através de internet e celular. Somente com eles será possível realizar micropagamentos (aqueles de 1 real) instantaneamente. 

“A ideia é você encostar o celular na catraca de metrô ou da vending machine e ela liberar a compra na hora”, exemplificou. “Não é para ser online, apenas ter bateria para o celular funcionar”. 

Os aparelhos seriam escolhidos pois a maioria da população os possui. Não haveria necessidade de gastar “R$ 600 milhões fazendo 40 milhões de cartões de plástico ou US$ 1 bilhão fazendo 1 milhão de máquinas de cartão”. 

“Dinheiro, hoje, é apenas dado”

Carlos concluiu a palestra decretando o fim das transferências bancárias e dos gastos excessivos com elas. 

Dinheiro, hoje, virou byte! Por que eu teria que pagar para enviar um e-mail, por exemplo? Não faz sentido”, opinou. 

“A transferência bancária vai deixar de existir e tudo vai se transformar em pagamento (o famoso P2P, ou person to person. Se eu tenho uma conta que recebe de tudo, a chance de receber calote é bem menor”.

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