Tudo o que você precisa saber sobre o cartão de crédito no Brasil

Por: Heitor Facini9 Minutos de leituraEm 26/04/2019Atualizado em 27/07/2021

O que é cartão de crédito? O cartão de crédito já se tornou uma das formas de pagamento mais importante para o brasileiro. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS) estima que entre as pessoas que têm cartão, possuem mais de 18 anos e vivem em cidades com mais de 100 mil ou mais habitantes, 96% usam o cartão de crédito todo mês e 55% delas todos os dias.

A ABECS ainda aponta que foram transacionados R$ 842,6 bilhões em 2017 nessa modalidade, um crescimento de 12,4% em relação ao ano anterior, 2016, em que foram transacionados R$ 749,7 bilhões.

Se compararmos ao PIB do Brasil em 2017, R$ 6,6 trilhões, o valor corresponderia a aproximadamente 15% do total. 

Dessa maneira, saber como gerenciar transações via cartão de crédito é essencial! Ao longo desse artigo, você vai descobrir tudo que você precisa saber sobre esse meio de pagamento tão importante na vida do brasileiro.

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O que é cartão de crédito? A história no Brasil

O início da história do cartão de crédito no Brasil começa no final da década de 1950, mais especificamente em 1958. Neste ano, em uma parceria entre o banco Bradesco e a BankAmericard, surge o Elo (que não tem relação com a bandeira de cartões da atualidade).

13 anos depois, em 1971, foi criada a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (ABECS), que continua sendo referência até hoje no segmento. Duas décadas depois, mais precisamente em 1994, com a implantação do Plano Real e a equiparação entre o dólar e a mais nova moeda brasileira, começaram a surgir os cartões de créditos internacionais através da Credicard.

E desde 1997 até os dias de hoje, surgiram mais de 70 bandeiras nacionais – algumas voltadas para nichos muito específicos, como cartões de lojas de departamentos, ou regiões específicas, como Nordeste. Entre 2006 e 2016, o número de cartões quase triplicou no Brasil, chegando a 150 milhões de crédito (com 55% do total ativos), de acordo com dados do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A popularização do cartão de crédito

“Temos visto nos últimos anos uma mudança cultural, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, em relação ao hábito de pagamento dos consumidores”, explica Ricardo Vieira, diretor executivo da ABECS. “Eles têm substituído os meios tradicionais, como dinheiro, cheque e boleto, por meios eletrônicos de pagamento. Não há a necessidade de sacar e andar com dinheiro no bolso, o que é muito mais seguro e prático para o consumidor”.

A popularização do cartão de crédito se deu quando o valor do crédito rotativo (aquele em que o cliente não consegue pagar todo o valor da fatura no vencimento dela) diminuiu bastante e quando começaram a ser implantados os chips neles, tornando-os muito mais seguros.

O brasileiro acabou perdendo o medo de se endividar com o cartão de crédito, já que esse crédito rotativo ficou mais barato por conta da automatização das operações dentro dos bancos”, explica Johan Hendrik Poker Junior, professor doutor do curso de administração da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. “Também houve uma mudança geracional. O medo da hiperinflação diminuiu muito e, através da digitalização dos serviços, ficou muito mais fácil para o consumidor acompanhar os seus gastos, trazendo uma maior segurança para o controle financeiro”.



Como funciona o sistema de cartão de crédito no Brasil?

Existem duas modalidades de cartão de crédito no Brasil: fechadas e abertas (ou em 4 partes).

As empresas que utilizam o primeiro modelo, como American Express, atuam no mercado B2B (vende para empresas) e B2C (vende para pessoas físicas). Isso significa que a American Express oferece seu cartão aos consumidores, mas ao mesmo tempo precisa buscar parcerias em lojas e estabelecimentos para ampliar a penetração do uso do cartão.

O consumidor tem encargos relacionados a anuidade e taxas de juros; os lojistas pagam uma taxa por cada transação realizada. O esquema é conhecido como esquema de três partes, pois tem três atores envolvidos.

O segundo modelo se chama aberto, pois qualquer banco ou instituição financeira (adquirente ou credenciador), mediante negociação, pode se juntar a bandeira.  

O banco emite o cartão para seus clientes e a instituição financeira se responsabiliza por conquistar lojistas e empresas para aceitarem os cartões. Nesse esquema, a bandeira cobra taxas ao banco emissor e adquirente e define a taxa que o emissor cobra do adquirente pela transação realizada entre o cliente do banco e o lojista do adquirente.  

A partir do momento que o cliente faz o pagamento utilizando o cartão de crédito, o sistema registra que a compra foi feita e coloca o valor na fatura para que ela seja paga no dia do vencimento, acordado com cliente e emissor. O banco dá garantia de que o valor será recebido pela empresa em cerca de 30 dias após a compra, mesmo que o cliente não quite a fatura.

Por que o brasileiro usa cartão de crédito?

Um dos motivos para o brasileiro utilizar cartão de crédito está relacionado à comodidade. Diferentemente do boleto bancário, o cartão de crédito não necessita que você quite todas as contas no momento que elas são geradas. Ele as junta em uma única cobrança, a fatura, que é cobrada de uma vez até o final do mês.

“O cartão de crédito traz mais rapidez e tem uma grande aceitação na maioria dos estabelecimentos, além de não gerar problemas com troco”, comenta Miltonleise Filho, VP Sênior da Mastercard. “Além disso, eles geram benefícios como o cadastro em programas de fidelidade, que trazem benefícios”.

“O cliente, quando utiliza boleto, tem de acabar acompanhando todo o processo e se programar para a data de vencimento dos boletos para não atrasar”, comenta Johan. “O cartão não tem essa necessidade, já que vem tudo na mesma fatura”.

E, se a gente for parar para pensar, boleto e cartão têm muitas semelhanças. “A gente paga a nossa fatura do cartão de crédito através do boleto, né?”, lembrou Carlos Netto, CEO da Matera, empresa que produz tecnologia para os bancos há mais de 30 anos. “O cartão de crédito acaba sendo um grande ‘boletão’. Aí está a facilidade, você paga tudo de uma vez só”.

O cartão de crédito na economia da recorrência

Quando se fala em cobranças recorrentes, como a taxa condominial, aluguel ou mensalidade escolar, o cartão de crédito elimina a preocupação de lembrar todo o mês de pagar os boletos. É só cadastrar o cartão de crédito uma única vez no sistema que o pagamento será faturado automaticamente, todo o mês. Apenas é necessário que o cliente tenha o cuidado de não estourar o limite do cartão.

O cartão de crédito também dá um respiro nas contas, caso ocorra algum imprevisto. Por não haver a necessidade de pagar na hora, o cliente pode se beneficiar daquilo que está comprando ou contratando no momento e só quitar o pagamento ao fim do mês. Mas é necessário se planejar para não acumular gastos ou dívidas desnecessárias.

Outra vantagem está na velocidade de liberação. “Quando você compra no cartão de crédito, o produto ou serviço contratado é liberado instantaneamente”, pontuou Carlos Netto. “Já imaginou comprar uma coca-cola na máquina ou pagar um estacionamento via boleto e ter de esperar um dia para entregar? Não funciona. O cartão já traz essa instantaneidade”.

O que é preciso avaliar na hora de vender por cartão?

Pelo fato de ser um meio de pagamento mais prático para o brasileiro, oferecer o cartão de crédito se tornou uma vantagem competitiva e que pode diferenciar uma empresa em relação a outra. Além disso, o cartão traz uma vantagem se levarmos em conta a inadimplência, que é quase nula nessa modalidade (normalmente, a adquirente ou instituição bancária acaba arcando com o prejuízo). Entretanto, existem algumas coisas que a sua empresa precisa se preparar neste momento.

O pagamento via cartão de crédito se difere em duas coisas do pagamento por boleto: impacto no fluxo de caixa e dinheiro a ser investido. O impacto do fluxo de caixa se dá pelo fato de que você só vai receber o dinheiro pago pelo serviço após 30 dias do pagamento. Ou seja, você realizou o processo de marketing, processo de vendas e entregou o serviço e o dinheiro só vai entrar após um mês corrido.

“Isso faz com que o empreendedor tenha de ter um capital de giro maior para manter a operação até o recebimento das vendas”, ressalta Adalberto de Souza Luiz, especialista em Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae. “Existe a possibilidade de antecipar recebíveis, mas as taxas cobradas ainda são extremamente altas”. Se o dinheiro é essencial a partir do momento da prestação do serviço, é melhor não oferecer o cartão de crédito como opção no início.

Outra coisa que influencia são as taxas. Quando você cobra por boleto, o valor é fixo, não importando se a conta for R$ 10 ou R$ 1000. No caso do cartão de crédito, as taxas costumam ser mais altas (mesmo com o boleto registrado) e proporcionais aos valores transacionados. Dessa maneira, se você faz uma transação mais instantânea e de menor tamanho, o cartão de crédito é mais interessante. Com o aumento do valor transacionado, pode ser mais interessante utilizar boletos para fazer o pagamento.

A fraude e o chargeback

Existem dois grandes problemas que as empresas precisam se precaver na hora de começar a transacionar por cartão de crédito: a fraude e o chargeback. As fraudes, nos últimos anos, com a implantação do chip e da senha, diminuíram bastante e é menor o problema da clonagem de cartões no ambiente físico. No entanto, o problema persiste.

No ambiente virtual, através de programas maliciosos, os fraudadores conseguem capturar os dados do cartão, já que, através de compras on-line, não é necessário o chip e nem a senha, apenas o número e o código de segurança. Dessa forma, é muito fácil alguém roubar os dados e utilizar o cartão para fazer transações não autorizadas. Isso acaba gerando o chargeback, momento em que o cliente contesta a compra pelo cartão e acaba recebendo o estorno dela.

Entretanto, na grande maioria das vezes o problema do chargeback não acontece quando os clientes contestam de forma justa as compras e sim quando fraudadores utilizam o serviço para receber produtos e depois receber o estorno dos mesmos. Dessa forma, podem revender os produtos para lucrar em cima deles e a empresa fica com o prejuízo.

Por isso, surgem os sistemas anti-fraude que servem para validar se a transação está dentro da normalidade ou não. Suponha que um cliente sempre peça para entregar uma compra em dois ou mais endereços, e, em uma certa compra, pede para ele ser entregue em outro país. Ou que ele sempre utilize o cartão vinculado a um certo e-mail e, em uma outra compra, vincule com um completamente diferente. Provavelmente, será uma fraude. Então os sistemas anti-fraude acabam barrando essa compra.

“O anti-fraude surge do comércio eletrônico, que muitas vezes transaciona por diversos países. Ele, na maioria das vezes, cancela diversas transações por amostragens de grupos específicos”, explica André Baldini, CEO da Superlógica.

“O sistema de meios eletrônicos de pagamento no Brasil é um dos mais evoluídos do mundo, principalmente no âmbito da segurança”, destaca Ricardo Vieira. “Hoje em dia, temos sistemas inteligentes que detectam transações indevidas, aplicação de chip em praticamente toda a base de cartões e autenticação em compras online. Isso já ajuda muito na questão da segurança do pagamento”.

Entretanto, esse problema é mais relacionado a empresas do varejo, aquelas que transacionam produtos. “No caso de uma empresa de serviço, esse problema não é tão grande. Normalmente, você já tem um relacionamento bom com o cliente e é difícil de não perceber uma transação estranha. De qualquer modo, se isso ocorrer, você pode cancelar o fornecimento do serviço”, reitera Carlos Netto.

O problema do churn involuntário com as transações negadas

No caso de empresas de serviço, o problema é outro. Se ocorre um chargeback, é só cortar o fornecimento do serviço temporariamente até que o pagamento volte ao normal. Empresas de serviço, aliás, não são procurados por fraudadores desse tipo já que não podem revender o serviço para outras pessoas e nem lucrar em cima disso.

O problema nesse caso está no churn (cancelamento) involuntário com as transações negadas. Segundo pesquisa da Recurly, startup americana especializada em pagamentos recorrentes, em média 13% das transações com cartão de crédito falham no mercado da recorrência. Essas transações têm problemas devido a inconsistências nos dados e indisponibilidade temporária do sistema do banco.

“O principal desafio é tornar o ambiente online tão seguro quanto o ambiente físico. Isso porque atualmente, a taxa de aprovação das transações no meio físico é de 94% nos países da América Latina e Caribe, enquanto no meio digital é de 66%”, destaca Miltonleise Filho. “O objetivo é sempre tentar diminuir esse atrito, para que não ocorram esses falso positivos”.

“Muitas vezes, a empresa acaba automatizando tanto o processo de pagamento que acaba perdendo o controle sobre ele. Aí não sabe quem não pagou e quando vai tentar reaver o cliente, ele percebe que pode viver sem aquele serviço”, aponta André Baldini. “Em empresas de serviço recorrente, a questão do anti-fraude mais atrapalha do que ajuda. Normalmente, através desses sistemas, há pelo menos 1,5% de transações negadas. Já pensou perder isso de clientes que não queriam cancelar por mês? É inviável”.

Baldini ainda diz que a melhor alternativa é não utilizar o anti-fraude em serviços recorrentes. “Há um relacionamento, você conhece o seu cliente e sabe quem ele é. Se, por acaso, ele atrasar ou não fizer o pagamento, é só deixar de ofertar o serviço para ele. Não é que o anti-fraude seja ruim, mas em serviços recorrentes ele só atrapalha”.

Existem algumas estratégias que podem ser tomadas nesses casos para garantir que não ocorra o churn involuntário:

  • Fazer retentativas inteligentes de pagamento: se as falhas forem temporárias, o pagamento pode ser processado em alguma hora ou em outro dia. Só cuidado para não forçar as retentativas para que os adquirentes não assumam que todas as suas transações são fraudulentas;
  • Desativar o anti fraude: como, normalmente, não existe muito interesse dos fraudadores por empresas de serviço, o anti-fraude se transforma em uma barreira para que o pagamento seja aceito e um valor extra para a empresa;
  • Tenha múltiplos adquirentes: os adquirentes têm os próprios sistemas antifraude e muitas vezes, uns acabam aceitando um tipo de cartão e deixando passar outro. Nesses casos, tendo vários, a chance da transação ser negada é bem menor.

Sobre a Superlógica

A Superlógica desenvolve o software de gestão líder do mercado brasileiro para empresas de serviço recorrente. Somos referência em economia da recorrência e atuamos nos mercados de SaaS e Assinaturas, Condomínios, Imobiliárias e Educação.

A Superlógica também realiza o Superlógica Xperience, maior evento sobre a economia da recorrência da América Latina, e o Superlógica Next, evento que apresenta tendências e inovações do mercado condominial.

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