Os aprendizados da jornada da Contentools

Por: Heitor Facini5 Minutos de leituraEm 03/01/2018Atualizado em 20/10/2020

A vida de um empreendedor em uma startup é cheia de obstáculos a serem superados: ideias que dão certo apenas na sua cabeça e o mercado não aceita muito bem, mercados não tão educados para sua solução, problemas na hora de achar o market fit, falta de recursos na hora de investir e muitos outros.

São necessárias diversas tentativas de inovação para que uma dê certo. Com Emília Chagas e Elton Miranda não foi diferente. “A história da Contentools é uma mistura da prática da inovação com dar com a cabeça na parede”, declarou Elton, co-fundador da empresa e chefe de crescimento. “Em mais ou menos 5 anos passamos por várias mudanças. Saímos do Brasil e fomos para o global, mudamos de marketplace para produto”.

Para ajudar os empreendedores que também querem entrar no mundo das startups, Elton compartilhou seus aprendizados na palestra “Os aprendizados da jornada da Contentools – concierge MVP, aceleração BR+US, pivot e expansão internacional” no Superlógica Xperience 2017. Você pode conferir ela completa no vídeo abaixo:

2013: venture builder e início da Tex.Do

A história da Contentools começa em 2013 quanto Elton criou uma venture builder. “A gente não sabia que o que estávamos fazendo era uma venture builder, hoje tem nome para tudo!”.

Basicamente, as venture builder são organizações que investem em startups com os seus próprios recursos.

“Sempre foquei mais no empreendedor e não nas ideias”, comentou Elton. “Uma ideia sem execução não vai valer nada”. Dentro da venture builder, existia um projeto chamado Tex.Do, um projeto de marketing de conteúdo –  que posteriormente viraria a Contentools.

O concierge MVP

A Tex.Do operava com um concierge MVP. O MVP é o produto mínimo viável, o menor possível que você precisa para colocar o negócio em em prática. No concierge, o conceito é realizar aquela tarefa de maneira manual – e com o menor custo envolvido no processo.

“No início, você não tem desenvolvedores, um app e diversas outras coisas. Mas isso não serve como desculpa para não colocar a ideia em prática”, explicou Elton. “Existem outras formas de começar a rodar. Só falta um pouco de cara de pau para chegar e fazer”.

Basicamente, a Tex.Do era um Google Forms no qual a pessoa preenchia quantos conteúdos ela queria e a Emília respondia como plataforma. “Na época, as pessoas elogiavam: ‘Os e-mails que a sua plataforma envia são muito bons!’. Mas era a Emília fazendo tudo manualmente”.

No geral, deu tudo certo. “Desde a primeira semana, a gente estava emitindo e mandando boletos”, declarou.

O MVP do coworking

Na mesma época, Elton também desenvolveu um MVP para um coworking realizando uma pesquisa de mercado. “Eu simplesmente joguei no Google ‘coworking Florianópolis’ e percebi que não tinha nenhum resultado. Logo, não existia”.

Ele abriu o dominío vilaj.com.br e criou um formulário com um botão escrito “Inscreva-se aqui!”. A partir do 15º contato ele já tinha uma boa noção de qual era a persona, o local ideal para criar o coworking e o melhor ambiente.

“Foi uma engenharia reversa da pesquisa de mercado”, comentou Elton. “Primeiro coloquei o site no ar e depois eu consegui os dados”.

StartupSC, primeira ida ao Vale do Silício e Techcrunch

No mesmo ano de 2013, a Tex.Do passou em um programa do Startup Santa Catarina, fez a primeira ida ao Vale do Silício e fizeram contato com o Techcrunch (um dos principais sites de tecnologia do mundo).

Além disso, os empreendedores conseguiram chegar a marca de 25 clientes e finalmente acharam um market fit. “Por ser uma empresa de B2B, 25 clientes faziam com que o nosso negócio parasse de pé e fizesse sentido”.

Eles aproveitaram esses primeiros clientes e realizaram uma pesquisa para conseguir insights de como deveriam tocar o negócio dali para frente.

2014: crescimento constante e programa de aceleração

No ano seguinte, a Tex.Do cresceu em média 22% mês a mês. As principais estratégias estavam focados em inbound sales e produção de conteúdo – não era um mercado muito grande, apenas com empresas como Rock Content e Resultados Digitais falando sobre isso.

Muito disso se deve às diversas ações de comarketing que a empresa acabou realizando. “A maravilha do comarketing é que você divide o custo por dois (você e a empresa que está realizando a ação) e amplia o resultado também por dois”, explicou Elton. “Mas você tem de tomar cuidado com quem você realiza comarketing. O público tem de fazer sentido”.

Ao final do ano, eram 250 clientes na base, o que dava um crescimento de 1.000%. “É fácil crescer 1000% quando você ainda é pequeno”, brincou Elton.

Nova call to action

2015: problemas no marketplace e mudança para SaaS

Uma das coisas que Elton e Emília perceberam é que o modelo de marketplace estava segurando demais a empresa. “A despesa cresce muito conforme a receita cresce. Fica difícil de a empresa criar tração”.

Então ocorreu uma mudança geral de 2015: a Tex.Do deixou de ser um marketplace e virou uma empresa SaaS. “Sempre tivemos um DNA orientado a produto”, comentou Elton. “E vimos também que os clientes estavam mais maduros e tinham mais demandas”.

Entrando no mercado global

No mesmo ano, eles também foram aprovados na 500 Startups. Assim, aproveitaram para expandir internacionalmente. No Vale do Silício, eles aprenderam muito e também ensinaram bastante realizando workshops falando sobre marketing de conteúdo.

“Decidimos dar um passo para trás e reaprender o que estávamos fazendo”, comentou Elton. “A imagem que temos do Vale do Silício é de algo intangível, mas não é isso. Eles sabem muito! Mas não mais e nem menos que o brasileiro. É um conhecimento diferente. Por isso temos muitas trocas a fazer”.

Com o tempo, eles acabaram superando algumas diferenças que eles têm do mercado brasileiro. Por exemplo, boleto bancário não existe nos Estados Unidos. O cliente sempre prefere deixar tudo no automático com o cartão de crédito em vez de ser cobrado todo o mês.

Para isso contrataram muitos americanos para aprender como eles trabalhavam e também demitiram muitos. Acabaram trabalhando com o time dividido: Elton e Emília nos Estados Unidos e o resto da equipe no Brasil.

2016: lançamento da plataforma

Lembram da mudança de marketplace para SaaS? Ela foi lançada em 2016.

Assim a Tex.Do saiu de cena e virou a Contentools. O software como serviço criado foi o de controle de fluxo de produção de conteúdo para empresas que tinham redatores dentro da empresa. Para quem tinha uma equipe interna, podia contratar o software; quem não tinha, podia ainda usar o marketplace.

“Produzir conteúdo para marketing digital consome muito tempo e gera muito trabalho”, lembrou Elton. “A ideia do serviço é simplificar esse processo de criação de conteúdo. A plataforma integra distribuição nas redes sociais e tem uma ferramenta completa de SEO”.

Aprendizados internacionais

Elton também compartilhou o que aprendeu internacionalmente durante a palestra. “Existia um gargalo que a gente preencheu”, explicou. “As empresas cobravam US$ 4 mil em um produto robusto, enquanto cobrávamos de US$ 300 a US$ 400. Quando o seu time é menor, você não precisa de algo tão complexo”.

Para alcançar nessa fatia, a rede de contatos foi essencial. “Ajudou muito a gente a criar tração e trazer prova social de que a nossa solução funcionava”. Assim, eles conseguiram clientes em Israel, Portugal, EUA, Chile e México. “Por mais que a gente esteja em um momento diferente do início, a persona não muda de jeito nenhum”.

Assim, a Contentools começou a alcançar um mercado mundial. “É possível criar empresas globais no Brasil, como a gente, a Pipefy e a Wortex”, concluiu Elton. “Nós faturamos em dólar e investimos em real”.




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