Impacto do Covid-19 na economia mundial: o que devemos esperar?
Por Roberto Miamoto, Business Development Director & Board Executive Member no PJBank
O coronavírus está causando sérios danos econômicos, gerando não apenas apreensões no curto prazo, mas também transformando os desdobramentos e consequências econômicas no médio e longo prazo em um trabalho de futurologia. Revisões de projetos, bem como de orçamentos, sobretudo de novos investimentos, tem sido um trabalho árduo durante esse período.
A decretação de quarentena, com fechamentos de empresas e paralisação de linhas de produção, bem como bares, restaurantes e vários outros tipos de serviços, está trazendo um choque na produção, e consequentemente na oferta. Também, a demanda é afetada pela suspensão das aulas e qualquer evento ou espaço que gera concentração de pessoas.
As implicações desses choques, bem como a apreensão que ainda está por vir, geraram um stress nos mercados financeiros. Bolsas ao redor do mundo tiveram fortes quedas, além do índice do medo (VIX) que atingiu patamares comparáveis aos da crise de 2008.
Em meio a esse turbilhão, a falta de um acordo entre os países produtores de petróleo – OPEP- e a Rússia, fez com que houvesse um colapso no preço do barril de petróleo. A queda de mais de 30% em um único dia afetou o preço de outras commodities, juntamente com o efeito de uma redução de demanda por parte da China, afetou o preço de outras commodities.
As bases do capitalismo, nas trocas voluntárias entre indivíduos e organizações, estão sendo colocadas à prova. A questão é quais serão os desdobramentos, sobretudo em termos de preços.
Prevalecerá a restrição da oferta com aumento de preços, como o visto em produtos como o álcool em gel? Ou a queda da demanda, com redução de preços como estamos vendo no caso da gasolina? Ou um mix de ambos?
Soluções Governamentais
Para enfrentar o problema, banqueiros centrais das nações desenvolvidas usam da mesma receita usada para combater a crise de 2008. Injetaram trilhões de dólares, euros, libras e ienes no sistema. A somatória da ajuda de todos de bancos centrais ultrapassa $3 trilhões de dólares.
A oferta de dinheiro ao sistema tenta evitar que esta crise se alastre e se transforme em uma crise financeira. Ao mesmo tempo, essa estratégia tenta incentivar uma política expansionista, aumentando os gastos do governo.
Resumidamente o dinheiro entrará na economia através do esquema descrito abaixo:
- Os governos precisam de dinheiro para efetuar os gastos emergenciais;
- Emitem títulos que são comprados pelos bancos;
- Os bancos possuem então duas alternativas:
- Revendem esses títulos aos bancos centrais através do programa conhecido como afrouxamento quantitativo – quantative easing;
- Ou ainda os bancos podem usar os títulos como lastro no sistema de reservas fracionárias, no qual os permitem criar dinheiro digitalmente, emitindo empréstimos a fatores muito maiores que seu capital e depósitos, ofertando crédito ao sistema.
Além da injeção de liquidez, houve redução das taxas básicas de juros. Caso do Federal Reserve (FED, banco central estadunidense) que reduziu a taxa entre 0 e 0,25%. Já o Banco Central do Brasil (BACEN) reduziu em mais 0,5% a selic que agora está em 3,75%.
Outra ações estão sendo tomadas, reduzindo ou mesmo extinguindo, nem que temporariamente, o compulsório, que são os depósitos obrigatórios que bancos precisam manter junto aos bancos centrais.
Estas medidas são políticas monetárias, tentando endereçar a um futuro problema de liquidez, e será efetiva para lidar com um aumento crescente da insolvência de empresas pelo fato de não estarem produzindo e vendendo. No entanto, estas políticas monetárias ainda não trazem soluções efetivas para a falta de atividade econômica.
Redução de tributos
Outras respostas como a redução de tributos, ou mesmo o adiamento de seu pagamento, são efetivas, sobretudo no curto prazo, pois endereça uma resposta ao choque na demanda para que as empresas consigam enfrentar este período. Algumas observadas foram:
- O prazo maior para o recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS);
- A permissão do atraso para o recolhimento do Simples Nacional por 3 meses;
- A redução de 9% de IPI para produtos de combate ao Covid-19;
- E a antecipação da parcela do 13º salário.
Entretanto, a retomada da produção será necessária para que a cadeia no médio e longo prazo se sustente.
O imposto zero para determinados produtos médicos, outra medida adotada pela equipe econômica brasileira, também são efetivos para a atenuação dos efeitos da crise. E a redução de barreiras alfandegárias deverá ser estender a outros produtos, se houver agravamento.
O senso de urgência para as aprovações das reformas tributárias, administrativas e a redução dos entraves regulatórios e burocráticos, certamente trará respostas efetivas para a economia.
Implicações Macroeconômicas
As soluções monetárias trazem como implicação um aumento das dívidas soberanas para países já bem endividados. Muitos desses países possuem dívidas superiores ou próximas de 100% do PIB. Quanto maior a dívida do governo, maior também é o peso sobre os pagadores de impostos e empreendedores no futuro.
Além disso, a expansão da dívida também traz uma aumento da oferta monetária, dinheiro em circulação. Isso causa inflação – mais dinheiro em circulação, menor seu valor, o que gera aumento de preços.
A expansão da oferta monetária causa, sobre a microeconomia, os ciclos econômicos de alta e baixa. Ciclos de alta são causados por conta do dinheiro farto e barato, que geram investimentos ruins, criando o que se chama de “misallocation of capital“, ou má alocação do capital. Essas más alocações do capital, precisam ser liquidadas em momentos de crises, o que aumenta o efeito deflacionário e de quedas, como as que estamos observando.
O que foi descrito tem sido a fonte de todos os problemas econômicos do último século. O crescimento baseado em crédito, e não sobre as bases de poupança, geram os ciclos e adventos como esse, do coronavírus, só amplificam a volatilidade. Com isso, os problemas são amplificados, pois as economias globais já estavam em situações delicadas antes do vírus.
Inflação e Deflação
Neste momento a situação está se desdobrando em um dos dois possíveis cenários:
- Inflacionário: em que as injeções de liquidez dos bancos centrais, que jogaram mais de 3 trilhões de dólares, surtirão efeito;
- Deflacionário: em que a redução das atividades econômicas trará um impacto ainda maior para a economia.
Importante salientar que devemos presenciar muita volatilidade, sem descartar que podemos presenciar deflações, que pode vir até mesmo na forma de crashes, hiper-inflações ou uma sequência de ambos, não necessariamente nessa ordem.
Qualquer que seja o cenário, a situação será bastante turbulenta. Esse ponto de decisão, de qual cenário a economia se desdobrará – quando uma tendência deverá se consolidar – deve vir entre 5 e 12 meses.
O que tudo isso representa para a microeconomia?
Atualmente, a apreensão é constante para todos os empreendedores, pois os impactos são imensos e alguns ainda desconhecidos. A velha prática de se preparar para os tempos de “vacas magras” sempre ainda durante a bonança é um bom modelo de gestão, sobretudo financeiro, que não poderia estar mais em roga.
Isso é o que podemos observar que fizeram as grandes empresas de tecnologia e investimentos mundo afora. A Alphabet (holding do Google), com U$117 bilhões em dinheiro em caixa, e a Apple, com U$102 bilhões, (8) são exemplos. Assim como empresas de investimentos, como a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, que possui U$ 128 bilhões.
Dinheiro em caixa sempre traz tranquilidade para enfrentar momentos como esse, bem como geram ótimas oportunidades para investimentos frente ao pânico. Obviamente, os desdobramentos ainda são bem incertos e a preservação de caixa, visando sobretudo a sobrevivência, se faz necessária.
Quais medidas adotar pelo (micro)empreendedor?
Como boa prática, deve-se reavaliar investimentos, postergando em alguns meses planos de expansão. Reavaliação de custos e despesas também deveriam entrar em análise. O importante é encaixar uma espécie de modelo bootstrapping. Tentando fazer com que as despesas estejam cobertas pelas receitas, avaliando com bastante critério o orçamento da empresa.
Se faz importante, também, uma análise das receitas, no sentido de avaliar o que poderia ser feito para conseguir aumentar as vendas. Apesar do caos, isso sempre é possível.
Caso a empresa esteja com algum endividamento, a sugestão é negociá-lo imediatamente com os bancos, já que eles estão disponibilizando várias linhas de crédito, ou mesmo verificando a possibilidade de postergações de pagamento de parcelas que alguns bancos estão oferecendo. Esse movimento ajudará no fluxo de caixa, além de evitar que possíveis negativações no cadastro tragam dificuldades para negociar. Se faz um bom momento também para avaliar alternativas de crédito mais baratas, como as linhas que envolvem o home equity.
É líquido e certo uma desaceleração na economia, então devemos esperar um aumento da inadimplência. Para não gerar impactos no fluxo de caixa, processos melhores de cobrança precisam estar em prática. Ou, até mesmo, alternativas de boletos que cobrem apenas na liquidação para que custos não aumentem durante a realização da cobrança. Avaliem também mudar o meio de pagamento para realizar a cobrança através do recebimento via cartão de crédito, que garantem o recebimento se autorizado a transação por emissores/adquirentes.
Finalmente, como todas as situações de crise, o momento é propício para reavaliar o modelo de negócios, tentando trazer sofisticação ou mesmo procurando alternativas para geração de receitas.
Conclusão
Os impactos, como retratado neste artigo, serão imensos – e alguns são incertos. Devemos fazer a nossa parte buscando distanciamento e adotar todas as sugestões divulgadas no meios de comunicação para que não sejamos vetores de transmissão da doença e nem venhamos a adoecer. O impacto emocional em todos os sentidos é elevado, devemos portanto, buscar um pouco de frieza racional para que a gente consiga tomar as melhores decisões.
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