O Brasil é o novo celeiro de unicórnios?

Por: Vanessa Araujo7 Minutos de leituraEm 25/04/2018Atualizado em 28/10/2020

O primeiro trimestre de 2018 foi marcado por uma série de movimentações que colocaram em evidência o ecossistema de startups do Brasil. Nomes como a 99 (antiga 99Táxi), PagSeguro e Nubank alcançaram o status de unicórnios e mostraram que, apesar do Brasil não ter as mesmas dimensões dos mercados americano ou chinês em número de startups, há na atualidade um potencial latente para a geração de uma nova leva de empresas a serem avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

São muitos os fatores apontados para esse momento de valorização, entre eles o amadurecimento do modelo de negócios dessas empresas e a capacidade de se manterem consistentes mesmo em um período de retração econômica. Tudo isso aliado, é claro, à capacidade de oferecer serviços disruptivos para uma nova sociedade de consumo descrita na economia do acesso.

Mesmo em meio às dificuldades de empreender no Brasil, as startups estão conseguindo se estruturar dentro de um ecossistema propício para a captação de investimentos nos diversos estágios do negócio. E os fundos investidores nacionais e estrangeiros estão atentos a esse potencial.

Além disso, também vemos que os indicadores econômicos mostram perspectivas de recuperação e, assim, fomentam um ambiente macro mais otimista.

Quem será o próximo unicórnio brasileiro?

Mesmo diante da certeza de que o ritmo nos próximos meses não será tão frenético quanto ao que vimos no primeiro trimestre de 2018, algumas apostas já estão sendo feitas a respeito de quem será o próximo a integrar o clube bilionário.

Especula-se que existam entre 8 e 15 empresas, de segmentos variados, com potencial disruptivo para tal. Segundo o jornal “Valor Econômico”, algumas empresas são comumente citadas por investidores quando o assunto é unicórnios.

Para os otimistas, é um prenúncio de que uma manada pode estar a caminho corroborando a tese de que empreender no Brasil é um desafio que, sim, pode ser superado. Já os pessimistas preferem aguardar a abertura de capital dessas companhias para confirmar se não estamos somente atravessando um momento de prematuro excesso de confiança.

O consenso geral é de que o ritmo de novidades se mantenha constante nos próximos dois ou três anos.

Separamos algumas empresas mais citadas entre investidores com potencial para se tornarem o próximo unicórnio do Brasil.

Stone

A Stone é a empresa de pagamentos que tem 5% do mercado de máquinas de cartão, conforme informações do jornal “Valor Econômico”. Tem como sócios o banco Pan e o fundo Arpex Capital. Pretende ofertar suas ações na bolsa dos Estados Unidos nos próximos meses, com potencial de alcançar um valor de mercado superior a US$ 10 bilhões.

ZAP VivaReal

Especula-se que a fusão das duas maiores empresas de classificados imobiliários digitais do país, em 2017, aproximou o seu valor de mercado a US$ 1 bilhão. A expectativa é de abertura de capital nos próximos dois anos.

QuintoAndar

Outra empresa que atua no mercado imobiliário descomplicando a compra e a venda de imóveis, a QuintoAndar participou do Google Launchpad Accelerator em 2017. As apostas são feitas diante da expectativa de uma reação otimista da macroeconomia brasileira.

Neoway

De Florianópolis (SC), a Neoway faz sistemas para a análise de dados em nuvem, sendo considerada como pioneira em big data no Brasil. Recebeu aportes em 2015 e 2017. O valor divulgado dessa última rodada foi de US$ 45 milhões, da QMS Capital.

Resultados Digitais

Outra empresa de Florianópolis e criada em 2011, a Resultados Digitais desenvolve o RD Station, plataforma de automação de marketing. A RD recebeu, em 2016, em sua terceira rodada de investimentos, um aporte de US$ 19,2 milhões.

Ebanx

A empresa oferece soluções em pagamentos. Entre os clientes de maior visibilidade estão Spotify, Airbnb e AliExpress. Fundada em 2012, recebeu seu primeiro aporte em 2018. O valor do investimento foi de US$ 30 milhões, vindos do fundo americano FTV Capital.

Movile

Desenvolvedora dos aplicativos iFood e PlayKids, a Movile recebeu recentemente aporte de US$ 82 milhões pelos fundos Naspers e Innova Capital. Atingiu um valuation de US$ 250 milhões no final de 2017.

Banco Inter

O Banco Inter se prepara para o seu IPO (abertura de capital) ainda em 2018. Dados não confirmados pela empresa apontam que o banco fechou 2017 com lucro líquido de R$ 500 milhões.

VTEX

A multinacional brasileira VTEX tem foco em tecnologia cloud aplicada em e-commerce. Atende o mercado SaaS e também clientes globais como Walmart, Whirlpool, Lego, Disney, L’oreal, Sony e Coca-Cola. Há expectativa de abertura de capital em três ou quatro anos.

Guia Bolso

O GuiaBolso é um aplicativo para controle de finanças pessoais. Recebeu R$ 125 milhões em investimentos em 2017. Entrou recentemente no mercado de concessão de créditos com a Just.


Nova call to action

PSafe

A PSafe é desenvolvedora de um aplicativo de antivírus para smartphones do sistema Android. Com escritório no Vale do Silício, nos EUA, recebeu cerca de US$90 milhões vindos de investidores como Redpoint e ventures, Pinnacle Ventures e RPeV.

Contabilizei

A Contabilizei é outra empresa participante do Google Launchpad Accelerator em 2017. Oferece serviços online de contabilidade para pequenas e médias empresas.

Zenvia

Com 14 anos de atuação, a Zenvia é uma empresa que desenvolve tecnologia para comunicação entre empresas e consumidores por meio de chatbots e SMS. Figurou cinco vezes no ranking, organizado pela Deloitte Exame, entre as PME’s que mais crescem no Brasil no segmento de tecnologia. Tem clientes como Bradesco, Amazon, Danone e Bunge. Analistas de mercado acreditam que a empresa esteja bem próxima ao valuation de US$ 1 bilhão.

Truckpad

A TruckPad é um marketplace que aproxima empresas, que precisam fazer a entregas de mercadorias, a caminhoneiros autônomos. Criada em 2013, a empresa oficializou em dezembro de 2017 uma sociedade com a Mercedes-Benz. De acordo com as informações divulgadas na ocasião do anúncio, o aplicativo possuía mais de 600 mil downloads, sendo que mais de 8 mil empresas que utilizavam a plataforma. A empresa também já havia recebido aportes de aceleradoras como a Plug and Play.

99: primeiro unicórnio brasileiro

Logo na primeira semana de 2018, a 99 (antiga 99 táxi), que opera um aplicativo de transporte, anunciou a venda de suas operações para a chinesa Didi Chuxing, que já era sua investidora desde 2017.

O aporte da líder no mercado chinês faz parte da estratégia de acelerar os negócios de corridas por aplicativos na América Latina. Hoje, a Didi Chuxing é considerada a Uber chinesa. Sua ambição é redefinir a mobilidade e a indústria automotiva.

IPO do PagSeguro: valor ao mercado brasileiro de pagamentos

Outra notícia que agitou o mercado brasileiro nos primeiros meses de 2018 foi o IPO do PagSeguro na bolsa de Nova York. Recebido com euforia, a oferta superou as expectativas e movimentou US$ 2,6 bilhões.

Fundado em 2006, o PagSeguro tem sido noticiado como o segundo unicórnio brasileiro, embora não seja uma startup. O PagSeguro se tornou o maior negócio do grupo UOL após o lançamento da máquina Moderninha, em 2014. Já o UOL, por sua vez, é propriedade do Grupo Folha.

A empresa de meios de pagamentos se mostrou aos investidores como uma fornecedora disruptiva de soluções de tecnologia financeira que, mesmo em um cenário hostil, com a dominação de grandes empresas, conseguiu manter competitividade. Seu foco de negócio está, principalmente, em micromercados, pequenas e médias empresas no Brasil.

Nubank: nova rodada de investimentos coloca empresa entre unicórnios

Já a Nubank movimentou o mercado das fintechs com a notícia de que teria alcançado o valor de US$ 1 bilhão antes mesmo de sua última rodada de investimentos, ocorrida em março de 2018. A companhia levantou US$ 150 milhões e deve usar os recursos para fortalecê-la e torná-la menos suscetível à inadimplência dos clientes, segundo o que foi noticiado pela imprensa.

O sucesso da Nubank com o seu principal produto, o cartão de crédito, mostra que é possível conquistar uma legião de fãs em um mercado antes visto pela maioria da população como pouco simpático.

Descomplicando a prestação de serviços através de um app para celular, a Nubank já figura entre as empresas preferidas da geração Y (pessoas nascidas entre 1979 e 1995), que representa 72% de sua base de clientes. A companhia também é citada entre as mais inovadoras da América Latina em um ranking organizado pela revista “Fast Company”.

Números (não confirmados pelo Nubank) apontam que sua base de clientes chegaria perto de 3 milhões de usuários, com crescimento entre 20 a 30% ao mês. A empresa tem hoje 500 mil pedidos de cartão que estão na lista de espera para serem emitidos.

Fintechs movimentam investimentos

Em 2017, as fintechs brasileiras movimentaram mais de R$ 457,44 milhões em investimentos, segundo monitoramento do Conexão Fintech. Ainda segundo esse levantamento, os investimentos foram alocados em fintechs de vários segmentos com grande destaque para as empresas que atuam no setor de crédito, com 89% dos aportes.

Com a rodada recebida pela Nubank, a soma dos investimentos realizados em 2018, apenas nos dois primeiro meses, já ultrapassaram o total arrecadado em 2017.

Mercado SaaS brasileiro tem grande potencial para novo unicórnio

Se depender do mercado SaaS (Software as a Service) o Brasil tem startups com excelente potencial de crescimento. Especialistas e investidores acreditam que os negócios brasileiros de tecnologia vivem um momento muito favorável para a inovação, criando, assim, as condições ideais de desenvolvimento.

Segundo o estudo Brazil SaaS Landscape 2017, as empresas locais estão desenvolvendo formas inovadoras de atender especificidades regionais e fazendo isso com uma boa saúde financeira.

A pesquisa realizada em maio do ano passado com 400 startups SaaS apontou que 71% das empresas eram movidas pelos próprios investimentos. E, entre as que buscaram capital, somente 10% haviam levantado mais que R$ 10 milhões. Entretanto, na ocasião da pesquisa já era evidente o interesse de VCs (venture capital) em fazer apostas altas no mercado SaaS.

O estudo mostrou também a eficiência de capital nesse ecossistema: 60% das empresas que responderam a pesquisa apontaram que recuperam o seu CAC (custo de aquisição) em menos de 6 meses, frente a uma média de 12 meses registrada no mercado americano.

Outros 67% apontaram ter uma relação entre o valor de vida do cliente e o seu custo de aquisição (LTV/CAC) superior a 3. Ou seja, essas empresas geram uma receita junto à sua base de clientes três vezes maior ao valor investido na aquisição desses clientes.

Superlógica Xperience discute ambiente de inovação brasileiro

Quem será o próximo unicórnio ainda é campo de especulação, ainda mais em um país que apresenta tantas dificuldades para quem quer empreender. Entretanto, iniciativas que criam um ambiente ideal para a discussão de temas relevantes para o fortalecimento do ecossistema de startups e do mercado SaaS ganham cada vez mais relevância.

É o caso do Superlógica XperienceCom 1.300 participantes em 2017 e 2.400 em 2018, o Superlógica Xperience trouxe mais de 60 horas de conteúdo sobre Economia da Recorrência e SaaS para os maiores empreendedores da América Latina que puderam expandir seu networking através das parcerias em sua Feira de Negócios.

Ao todo, foram mais de 70 palestrantes em diversos temas e 30 expositores na feira de negócios, que reuniu founders, C-Levels, diretores e gerentes para trocar experiências em um ambiente rico para o desenvolvimento de carreira e crescimento de negócios.

 

 



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