A jornada para a cloud

Por: Heitor Facini6 Minutos de leituraEm 06/02/2018Atualizado em 27/10/2020

Um dos fatores que permitiu a explosão de novas startups e a transformação digital foi a popularização da computação em nuvem. Com ela, foi possível revolucionar a forma que as empresas consomem a tecnologia.

“Eu me lembro que, há alguns anos, a gente precisava fazer uma pesquisa com nossos clientes para entender as tecnologias que tinham”, comentou Leandro Garcia, CTO da Superlógica. “O objetivo era ver se eles tinham fit para que o que a gente oferecia. Hoje, na internet, isso não faz mais sentido. Eu trabalho com qualquer tecnologia e o cliente só precisa ter um browser conectado com a internet para usar a solução”.

Hoje, já existem empresas que nasceram utilizando a nuvem. “Quem já começou utilizando esse modelo não entende qual a necessidade de alguém ter um servidor dentro da empresa”, comentou Caio Klein, co-fundador da Sky.one.

Entretanto, as empresas mais antigas estão penando para conseguir entrar nesse mundo. Mas é algo necessário. “Se existe algo que a tecnologia não respeita é a nossa opinião, o que a gente acha”, explicou Cyro Diehl, fundador da Cloud Target e ex-presidente da Oracle no Brasil. “Lutar contra isso só significa que você vai ficar para trás”.

“Se alguém tem medo de adotar o serviço por preço e segurança, pode ficar calmo”, falou Kleber Bacili, fundador da Sensedia. “É possível contornar o alto custo. Quanto a segurança, é bem mais seguro que um servidor próprio”.

Para discutir o assunto, Kleber, Cyro e Caio participaram do painel “A jornada para o Cloud” no Superlógica Xperience 2017 com mediação do Leandro. Você pode conferí-lo completo abaixo:

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A nuvem alavancando grandes transformações através das startups

Cyro cita uma referência interessante do livro Organizações Exponenciais, escrito por Salim Ismail. Segundo o livro, em 2006, a Amazon decidiu vender uma grande parte dos seus recursos de plataforma. Foi como um black friday de tecnologia.

“As startups tiveram acesso a essa tecnologia de ponta. Era o mesmo que a Amazon teria”, explicou Cyro. “Elas puderam ter escalabilidade, segurança e ferramentas disponíveis para a resolução de pequenos problemas e transformar o mundo que vivemos”.

Assim, foi a aberta a possibilidade de empresas como Uber surgirem e transformar a experiência do cliente. “Com certeza, o grande alavancador foi a nuvem”, salientou. “As startups puderam contar com uma tecnologia robusta para fazer isso acontecer”.

Como migrar para a nuvem

Muitas empresas já surgiram utilizando a nuvem como principal forma de armazenamento. Mas como migrar pra ela se você já tem um legado? “Um dos problemas é a falta de expertise”, comentou Caio Klein. “Muitas empresas tem alguém especializado em computação, armazenamento, redes mas quando junta tudo isso e coloca na nuvem, o negócio é bem diferente”.

Nova call to action

Isso acaba resultando em conceitos errados por parte das empresas que vão adotar. Um dos problemas e reclamações recorrentes se refere a falta de segurança da cloud. “O motivo está relacionado a falta de conhecimento quanto ao assunto”, comentou Caio. “Normalmente a nuvem é tão ou mais segura que o servidor interno”.

Nuvem pública, híbrida ou privada

Quando a empresa decide implementar a cloud, seja desde o início, seja após um tempo, ela precisa decidir qual modelo irá utilizar:

  • Privada;
  • Pública;
  • Híbrida;

A cloud privada é um data center remoto onde você mantém um grande controle sobre a infraestrutura. Ela pode ser útil em questões de compliance e segurança, mas requer muito mais trabalho.

A pública está relacionada a servidores públicos, como Amazon, Google e Microsoft. Ela tem uma elasticidade grande e permite escalar facilmente os serviços.

A híbrida é quando você une as duas. “Inicialmente, se você está realizando uma transição, a melhor ideia mesmo é utilizar a cloud híbrida”, comentou Caio Klein. “Se existe uma estrutura montada na sua empresa, é difícil jogar tudo fora de uma vez”.

Mas a tendência é rumar para a cloud pública. “Tudo o que você precisa tecnologicamente está na cloud pública”, comenta Caio. “Hoje a gente comenta de soluções serverless, você programa o código, deixa ele lá e pronto”.

Qual o custo da implementação na nuvem?

Muitos pensam que utilizar a nuvem é bem caro, mas isso não é necessariamente verdade. “Normalmente, a pessoa tenta pegar tudo no legado e jogar direto na nuvem. Isso vai encarecer um absurdo o serviço”, explicou Caio Klein. “A aplicação não foi feita para funcionar do mesmo jeito que no legado e precisa ser adaptado”.

O valor em cima da nuvem é cobrado por hora e o serviço é muito elástico. Por isso, não é necessário, na maioria das vezes, deixar a sua solução ligada 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano. Pode aumentar no momento de pico e diminuir na baixa.

Você tem de estar avaliando sempre se o uso é necessário para aquele momento ou não. “Fique de olho sempre nos seus recursos. Isso pode ser a diferença de gastar R$ 80 mil ou R$ 8 mil com cloud”, explicou Caio.

“Na Sensedia, aconteceu algo do tipo. A gente armazenava na AWS um arquivo de log no formato mais caro possível”, explicou Kleber Bacili. “Basicamente, a gente colocava um container na Avenida Paulista sendo que podia ser em um lugar muito mais barato. Utilizar o serviço certo na quantidade certa pode resultar numa redução tremenda de custo”.

Como fica a segurança?

Uma das principais preocupações de quem decide adotar a nuvem fica por conta da segurança do modelo. Mas a maioria dos problemas relativos a isso acontece por conta de erros internos e não referentes a cloud.

“Não adianta nada usar um serviço de cloud excelente se a senha de acesso root no servidor na nuvem está num post it pregado na entrada da empresa”, alertou Kleber. “Normalmente as empresas cometem erros muito mais primários”.

A gente já escreveu um artigo aqui para o blog da Superlógica falando sobre a Engenharia Social. É um problema muito comum em muitas empresas e você tem de ficar atento a ele.

“90% das invasões acontecem dentro dos firewalls internos”, comentou Cyro Diehl. “E o motivo é simples. As empresas tem uma capacidade limitada para investir em segurança. Microsoft e Amazon são imensas e tem como investir muito mais dinheiro. É um ambiente muito mais seguro que o interno”.

Mas isso é normal. Grandes inovações demoram até perderem o descrédito. “No início todo mundo desconfiava que a internet era segura”, lembrou Cyro. “Hoje em dia todo mundo utiliza”.

Como utilizar APIs na nuvem

APIs são grandes peças de lego. Você vai encaixando conforme quer, conforme sua necessidade. Mas, para transformar o monolítico (quando o servidor é único) já existente em vários micro serviços demanda muito trabalho. “Tem de pensar em toda a conexão existente”, explicou Kleber. “Não vai adiantar migrar tudo de uma vez”.

Uma solução é mesclar os micro-serviços e o monolítico. “Isso não é simples por causa das informações duplicadas”, alertou Kleber. “Mas pegar o monolito e pouco a pouco em diferentes micro serviços independentes em torno da deploy permite que equipes diferentes trabalhem em partes diferentes da solução de maneira autônoma. Muitas empresas estão seguindo esse caminho”.

É importante que desde o início você consiga gerenciar a várias APIs internas e também de parceiros. Se não, pode acontecer algum problema de acesso no meio do caminho. “É importante para questão da segurança, escalabilidade, monitoramento e controle da solução que você oferece”, comentou Kleber.

Multi Cloud: o futuro da nuvem

A cloud se transformou tanto que deixou de ser encarada como infraestrutura e virou um serviço. “A solução que você oferece tem de ser independente da infraestrutura ou qual tipo de nuvem que você vai utilizar”, comenta Cyro.

Assim surge o conceito de multi cloud. Basicamente, é utilizar serviços diferentes para a mesma solução. “Se você utiliza apenas um serviço, você se torna dependente dele e acaba perdendo um pouco da autonomia do negócio”, alertou Cyro. “Assim você cria competitividade e sempre oferece o melhor serviço para a pessoa. É uma tendência que será irreversível”.

Qual o rumo da tecnologia?

Não existe resposta para essa pergunta. Não tem como prever”, alertou Cyro. “Mas uma coisa que a gente tem que entender é que tecnologia é commoditie e você não pode se prender a ela. Não adianta ficar focado se você sabe programar em PHP ou Ruby, isso fica velho em 5 anos. É importante estar atento a usabilidade e como você consegue solucionar um problema”.

É por isso que o foco tem de ser no quê fazer e não no como. “A tecnologia fica cada vez mais transparente e acessível”, comentou Leandro Garcia. “O que faz a diferença de quem vai vencer ou não é o modelo de negócio”.

“Por isso que é importante é perceber os sinais e se ajustar no meio do caminho”, explicou Kleber. “Tem de sempre aprender a mudar. Por exemplo, aprendizado da máquina é um elemento que está surgindo com força e que  em tempos atrás ninguém imaginava”.




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