O panorama do investimento em empresas SaaS no Brasil

Por: Heitor Facini3 Minutos de leituraEm 02/10/2017Atualizado em 30/09/2020

O investimento anjo no Brasil contraria o cenário econômico dos últimos anos no país. De acordo com dados do IBGE, em 2016, o PIB caiu 3,6%. Foi o segundo ano seguido com recuo já que em 2015 a queda foi de 3,8%. Mas, nessa mesma época o investimento anjo aumentou 9% e chegou a um total de R$ 851 milhões, segundo dados da Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos que busca o fomento desse tipo. Em 2015, o cenário também era de alta com 11% de crescimento.

“Eu ainda acho que 9% de crescimento no investimento anjo é um número baixo”, opinou Joaquim Lima, sócio da Riverwood Capital, em painel no Superlógica Xperience 2017, maior evento do mercado de assinaturas e SaaS do Brasil. A Riverwood é fundo de investimento voltado para empresas de tecnologia e já investiu em empresas como VTEX e Pixeon. “O setor de tecnologia tende a crescer sempre mais que a economia como um todo por conta da disrupção que apresenta”, completou.

Joaquim fez parte do painel Investimento em empresas SaaS no Brasil – presente e futuro junto com Patrick Arippol, da DGF Investimentos, e Pierre Schurmann, da Bossa Nova Investimento. O painel foi moderado por Fernando Marchi, da Medialink.

Arippol chamou atenção para o fato de o investimento ter crescido mesmo em meio à crise. “As empresas de tecnologia brasileiras pareciam estar descoladas do mercado nacional. Uma coisa que pode ter influenciado é o fato de o brasileiro ter deixado de ter complexo de vira-lata. Agora ele sabe que dá para fazer”, comentou.

Pierre Schurmann lembrou que as condições são mais favoráveis também. “O custo para se ter uma empresa de tecnologia caiu muito nos últimos anos. Hoje é possível você viver no interior de algum estado e ainda sim ser um grande player nacional, algo impensável uns tempos atrás”, opinou.

Aproveite e assista abaixo o painel Investimento em empresas SaaS no Brasil – presente e futuro na íntegra abaixo.

O que é um venture capital?

É uma modalidade de investimento que busca um retorno tão alto quanto o risco que se propõe. Normalmente, os investidores querem que o capital aplicado retorne entre 10 e 30 vezes maiores do que o valor inicial.

“Eu gosto de utilizar uma metáfora para explicar o que é o venture capital”, comentou Schurmann. “Sabe quando os grandes exploradores iam atrás de novos territórios através dos mares há centenas de anos? Então, as expedições eram pagas por investidores privados. Eles colocavam o dinheiro e, quando o navegador voltava, ficavam com uma parte da mercadoria conquistada”.

O risco em ambos os casos é alto, afinal o navio podia ser roubado ou se perder no mar. Uma empresa, por mais promissora que seja, pode acabar não dando certo ou sendo engolida por uma gigante.

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Todo mundo precisa de um venture capital?

“No mercado norte-americano, apenas 5% das empresas de tecnologia recebem venture capital”, comenta Joaquim Lima. “Existem muitos casos de empresas que andam no próprio ritmo dos fundadores e conseguem sucesso”.

Arippol é da mesma opinião, mas acha que o venture capital pode ajudar bastante. “No geral, se você está planejando vôos maiores, como uma internacionalização da marca, o investimento pode ser de grande contribuição”.

De qualquer forma, o dinheiro investido apenas pelo dinheiro tem seus problemas também. “O que mais importa no investimento é quem vai entrar junto contigo. Um investimento menor acompanhado de inteligência é mais lucrativo que um investimento maior sem isso. O dinheiro pelo dinheiro não faz sentido”, opina Pierre Schurmann.

O que os investidores procuram numa empresa?

Isso vai variar de caso a caso. Mas, no geral, o diferencial procurado é a ambição dos fundadores. “A gente sempre procura comprometimento dos fundadores”, declara Joaquim Lima. “É primordial que eles saibam aonde querem chegar com o investimento”.

Mas nem por isso deixam de lado a questão financeira. “A gente analisa, sim, bastante coisa dos unit economics [o quanto cada real investido está retornando]”, complementa. “No geral, o investidor coloca tudo isso na equação e se sentir confortável com o risco, investe”.

Por que negócios recorrentes são tão especiais?

A economia da recorrência vem mostrando resultados concretos. Empresas vêm conseguindo escalar de maneira muito mais fácil. “O principal é que você não precisa matar um leão todo fim de mês para conseguir pagar as contas no fim do mês”, comenta Patrick. “Você tem uma previsibilidade de receita. Isso traz muita tranquilidade para o investidor”.

O fator econômico também pesa bastante. Afinal, cada real investido retorna de maneira mais fácil em empresas SaaS. “Você não precisa gastar tanto para fazer o seu dinheiro retornar”, explica Arippol. “É mais fácil de fazer o seu negócio se espalhar. Hoje em dia a gente vê empresas da Suécia, Austrália e Nova Zelândia como líderes globais”.



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