Por que o futuro da sua empresa é global?
Vencer no mercado global é o sonho de qualquer empreendedor. Mas requer muito trabalho, planejamento e estratégia para dar certo. A Trello, solução de gestão de projetos, é um grande case de sucesso. O serviço, criado nos Estados Unidos, estava traduzido em 1 idioma em 2015. Hoje, expandiu para 21 diferentes. Internacionalização de empresas é o futuro!
Alexia Ohannessian, líder internacional de marketing da empresa, explicou na palestra que deu no Superlógica Xperience 2017 como conseguiu isso com pouco investimento. E também deu dicas do que uma empresa tem de fazer pra ser global.
“Em 2015, quando o sistema estava disponível apenas em inglês, tinhamos 10 milhões de usuários. Hoje, com 21 idiomas, chegamos a 22 milhões no mundo todo”, comentou.
E não se acanhe, a maioria das soluções tem potencial para se expandir globalmente. “Muito provavelmente alguém aqui no Brasil tem o mesmo problema que alguém da Espanha. A sua solução pode ajudar alguém ao redor do mundo”, explicou Alexia.
Aproveite e veja a palestra Por que o futuro da sua empresa é global: Como a Trello passou de 1 para 21 idiomas em menos de um ano com baixo (quase nenhum) investimento na íntegra abaixo.
Internacionalização de empresas: pense em ser global desde o princípio
Um dos exemplos usados por Alexia durante a palestra foi a BlaBlaCar, unicórnio francês de compartilhamento de viagens que chegou ao Brasil em 2015. No início o nome da empresa era covoiturage.fr. Traduzindo seria algo como carona.fr. Um nome maravilhoso para o público francês, mas que não ia ter o mesmo efeito no público global. Por isso decidiram mudar a marca.
Alexia comentou sobre o nome Trello também. “Trello faz sucesso ao redor do mundo. O que muda normalmente é um pouco a pronúncia. O único problema que a gente teve até agora foi em grego, que Trello significa maluquinho. Mas eles não reclamaram até o momento”, apontou rindo.
Traduza para o idioma que seus usuários falam
É importante, ao tentar expandir seu produto para mercados, traduzir o seu sistema. Isso cria empatia e demonstra interesse naquele público.
O primeiro passo é passar o sistema para o inglês, que vai atingir uma gama grande de usuários. Mas isso não vai alcançar todo o público de um país.
“Muita gente vinha falar comigo: ‘Alexia, eu quero usar seu serviço, mas minha equipe não consegue entender’”, lembrou. “Um dos exemplos que a gente tinha veio do Brasil. No nosso sistema tinha a palavra archive, que significa arquivar. Os usuários entendiam que aquele botão servia para anexar arquivos”.
Comunique as mudanças ao seu público
Os três primeiros idiomas traduzidos foram espanhol, alemão e português. A empresa decidiu atuar de 3 formas diferentes na divulgação:
- Espanhol: sem divulgação da tradução;
- Alemão: newsletter e contato com a imprensa;
- Português: blog, rede social voltada para o Brasil, parcerias.
Na Espanha, o público mal percebeu a tradução e o número de usuários não aumentou. Na Alemanha, o número cresceu, mas estabilizou rapidamente. No Brasil o número acabou aumentando de forma bem mais interessante que nos outros países.
Moral da história? “Marketing realmente é importante”, responde Alexia. A idéia principal é: traduza sua ferramenta e não esqueça de comunicar isso. Se você não contar para os usuários, eles não vão saber e você terá feito o trabalho à toa.
Como fazer isso?
Primeiro você tem de analisar o país em que está entrando. “Por exemplo, no Brasil, as pessoas leem bastante newsletter e e-books. Nos Estados Unidos, eles escutam bastante podcast”, comenta Alexia.
Uma das maneiras de entender isso é fazer parcerias com redes já estabelecidas. A Trello se uniu com o Guia do Estudante aqui no Brasil para ajudar alunos a se preparar pro ENEM. “Isso não daria certo em outros países, já que só aqui existe o ENEM”, explicou Alexia.
Cada lugar vai ter uma particularidade. Entender isso é meio caminho andado para ter sucesso naquele mercado.
Entenda o comportamento do público
No geral, traduzir é um passo importante. Mas não é o passo final. Você precisa adaptar o seu produto para a cultura de uso daquele país.
O McDonald’s oferece diversos lanches diferentes ao redor do mundo. O AirBnb mudou a home do seu site japonês por causa de reclamação de usuários locais.
Tudo tem de ser pensado na melhor estratégia para que o seu usuário obtenha o sucesso usando o seu serviço.
Como a Trello usou a experiência do usuário para conseguir chegar a 21 idiomas ao redor do mundo?
O primeiro idioma a ser traduzido foi o francês. A escolha foi porque Alexia é francesa. “Isso acabou ajudando pois eu poderia validar se as traduções estavam ok”, comentou.
Mas contratar um tradutor ia deixar muito caro. Surgiu aí a ideia do crowdsourcing. O time do Trello entrou em contato com os principais usuários na França e perguntou se eles queriam traduzir o sistema. 30 voluntários retornaram e o trabalho foi concluído em 30 dias. O processo foi um sucesso. A ideia então era implementar o crowdsourcing no maior número de idiomas possíveis.
Alexia pegou os 32 idiomas mais falados por usuários do Trello e traduziu a frase “o que é Trello?” para cada um deles. Achou artigos e blog posts sobre o assunto e entrou em contato com os autores pedindo pra traduzir o glossário do sistema para o seu idioma natal. Recebeu 16 respostas e decidiu traduzir para esses idiomas.
A diferença para a França é que o contato não foi feito por e-mail e sim pela própria ferramenta. Foi criado um quadro para cada idioma e os tradutores voluntários iam conversando por lá. Após o período de 4 meses, a Trello lançou os 16 idiomas e ficou ao todo com 21.
Em questão gramatical, a tradução ficou pior que as oficiais. Mas em questão de usabilidade, ficou bem melhor. “Os tradutores não eram profissionais, mas eram nossos usuários. Entendiam nossa ferramenta e nosso humor. Isso fez que o resultado ficasse melhor”, comentou. Além disso, Alexia ressalta que é mais importante conseguir ter mais idiomas com alguns errinhos do que ter apenas 1 em perfeito estado.
Concluindo…
Cada país é um novo desafio
Ter um playbook bem desenhado é uma boa. Mas é importante entender que cada país tem uma cultura própria e os usuários se relacionam com seu sistema de formas diferentes.
Tenha um histórico, mas não deixe de lado a possibilidade de começar do zero cada vez que você entra em um novo mercado.
Trabalhe com redes já estabelecidas
Para não se perder, tente fazer parcerias com redes já estabelecidas naqueles países. Além de ajudar com o formato, você consegue alcançar uma boa audiência naqueles mercados.
O mundo vai além dos EUA
Não pense que se transformar em uma empresa global é simplesmente entrar nos Estados Unidos. O mercado norte-americano é muito competitivo e entrar nele pode não ser a melhor ideia.
Tome o exemplo do Deezer, empresa francesa. O principal concorrente é o Spotify, que já está completamente consagrado no mercado norte-americano.
Quando recebeu um investimento, a empresa decidiu investir em todos os países que não eram os Estados Unidos. Assim se tornaram o segundo principal serviço de streaming do mundo.
O usuário é o foco mais importante, esteja onde estiver
Sempre foque em oferecer a melhor experiência possível para o usuário, onde quer que ele esteja. Entenda como ele se comporta, como convive, como se relaciona.
A partir daí você vai conseguir trabalhar melhor, comunicar seu produto melhor e convencer melhor a sua audiência