Qual o futuro do jornalismo como modelo de negócio?
O jornalismo brasileiro passa por uma crise em seu modelo de negócio, como foi discutido no painel “Recorrente, digital e com serviços: a solução para a crise no jornalismo?”, durante o Superlógica Xperience 2019. Alguns números comprovam isso:
- Entre 2012 e 2016, segundo o Volt Data Lab, 1.433 funcionários foram demitidos em empresas jornalísticas;
- Band demitiu 300 funcionários em 2018;
- BuzzFeed demitiu 15% da sua força de trabalho no mundo todo em 2019;
- Vice demitiu mais de 250 funcionários em 2019;
- Abril demitiu mais de 500 funcionários em 2018.
Entretanto, alguns movimentos foram observados. Diversas empresas conquistaram um resultado positivo internacionalmente nesse meio e outras empresas de tecnologia adquiriram meios jornalísticos para torná-los lucrativos. Por exemplo:
- Marc Benioff, da Salesforce, comprando a Time;
- Jeff Bezos, da Amazon, comprando o Washington Post;
- New York Times, com um modelo de assinaturas, conseguiu mais de 260 mil assinantes nos três últimos meses de 2018, e mira 10 milhões em 2025;
- Jota, portal jurídico do Brasil, que conseguiu um aporte de R$ 6,8 milhões no início de 2019.
Outros grandes exemplos são o Nexo e o Meio. O primeiro recebeu uma doação de US$ 920 mil a Luminate, organização filantrópica fundada por Pierre Omidyar, fundador do Ebay e do Paypal, e também funciona no modelo de assinaturas. O Canal Meio já conta com uma base de mais de 80 mil usuários na sua versão freemium, também funcionando no modelo recorrente com benefícios extras para os assinantes.
Ambos foram representados no painel do Superlógica Xperience e continuaram um papo em um podcast sobre o futuro do jornalismo, que realizamos durante o evento. O Nexo foi representado por Thiago Araújo, marketing e inteligência de dados do portal, e o Canal Meio por Vitor Conceição, CEO da empresa. Abaixo, você pode conferi-lo na íntegra!
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O que causou a falência nos modelos tradicionais do jornalismo brasileiro?
Hoje, o consumo no mundo digital mudou muito em relação a antigamente. Por exemplo, os clientes valorizam muito a experiência e a dos veículos tradicionais era péssima, afirma Thiago Araujo, do Nexo.
“Veículos de comunicação têm, em geral, uma experiência horrível de assinatura. O churn era muito baixo, é verdade, mas as pessoas relutam em assinar por que o cancelamento é muito difícil! É importante poder cancelar a qualquer momento para que o usuário fique contigo pela qualidade do seu serviço e não por amarras”.
Além disso, ele ressalta a importância de olhar para o que as startups vem fazendo. “Uma coisa que os jornais tiveram nos últimos anos e as startups não vem tendo é o medo de errar. As empresas de comunicação precisam se permitir errar mais”.
“Isso é a mais pura verdade, a gente tem que tentar até conseguir acertar”, comentou Vitor Conceição. “Em um certo momento, os jornalistas ficaram focados só na redação e esqueceram de pensar em negócios. Isso não pode acontecer!”.
Jornais precisam entender aquilo que vendem
Outro ponto importante é o entendimento do produto que estava sendo vendido. A maioria das grandes empresas de comunicação achavam que estavam vendendo conteúdo, mas a verdade era outra, elas vendiam comodidade. Pelo menos é o que acredita Vitor Conceição.
“No jornal, você recebia todo dia de manhã um resumo daquilo que você precisava saber naquele dia. Na TV, no telejornal da noite, era a mesma coisa. Hoje, as notícias são em tempo real e você fica perdido com tanto conteúdo. Não existe essa comodidade mais”.
Os jornais não entendiam o que vendiam e, em consequência, não entendiam os clientes. Assim, passavam a focar mais nos patrocinadores e menos nos usuários, perdendo assim assinantes. “No Meio, a gente tentou replicar esse modelo com uma newsletter diária que reúne o que o leitor precisa saber para se manter informado”.
“Os leitores de jornais não querem simplesmente assinar um produto, querem fazer parte de algo”, ressaltou Thiago. “O nosso CTA não é ‘se torne assinante’ e sim ‘faça parte’. É preciso entender que em veículos de mídia, igrejas, clubes e ONGs, normalmente o cliente faz parte por acreditar naquele projeto. Ele apoia para conseguir manter aquilo funcionando”
Foi exatamente o que Thiago entendeu dos usuários do Nexo. Ele percebeu que, depois que viam mais conteúdos gratuitos e de redes sociais, compreendiam todo o processo do Nexo e toda a mensagem. Dessa maneira, eles tinham maior propensão a virar assinantes pagos. “Na maior parte do tempo, os leitores pagam pela ideia e não pelo conteúdo extra em si”.
Mas conteúdo de qualidade ainda converte!
Tanto para empresas que “vivem” de conteúdo como aquelas que o utilizam como canal de atração de novos clientes é extremamente importante primar pela qualidade na produção de textos, vídeos e áudios.
“Para nós, o que mais converte é o próprio conteúdo”, declarou Vitor. “Toda a sexta-feira, antecipamos o assunto que vai sair na edição premium de sábado. Normalmente, os meios de comunicação nunca utilizam essa antecipação para o acesso do conteúdo, mas com a gente funciona muito bem. Essa é a maior taxa de conversão que temos de usuários gratuitos para assinantes”.
Quando se fala em marcas, o marketing precisa pensar primeiramente qual o objetivo do conteúdo. “A maioria das empresas precisa entender o que significa sucesso para elas. Todo mundo quer fazer um home run e conseguir viralizar, mas isso não faz sentido na maior parte do tempo. Às vezes, você precisa entender o que o seu cliente precisa e produzir algo específico para ele”, explicou Thiago.
Thiago ainda expandiu explicando que empresas SaaS, por exemplo, podem fazer análise do mercado, grandes cases e procurar sanar dores dos clientes. Empresas em mercados mais competitivos e maiores (como Rappi e iFood) podem “beber da fonte de gigantes, como Coca-Cola e Red Bull, adicionando mais valor e uma experiência ao que eles oferecem. Nesse caso, as empresas podem atrelar algo mais sensitivo para a marca”.
Não esqueça do formato!
Mas não adianta escrever um conteúdo de extrema qualidade para um formato que não faz sentido. Thiago diz que, no Nexo, isso fica mais a cargo da redação.
“Eles percebem que, quando uma história é mais visual, ela deve virar um vídeo. Quando é uma notícia que precisa ser expandida, pode virar um podcast. Quando precisa visualizar dados, uma boa pedida pode ser um gráfico”.
Vitor também ressalta a importância de seguir, novamente, o modelo das startups. “Precisamos sempre testar para ver se vai dar certo. E não apenas uma vez, mas várias! Não adianta lançar 2 episódios de podcasts e achar que já não deu certo, precisa de uma constância. Também é bom entender que uma coisa que não deu certo uma vez, pode dar certo em outro momento. E algo que funcionou um dia, pode não funcionar depois. Por isso, sempre testem!”.
Sobre a Superlógica
A Superlógica desenvolve o software de gestão líder do mercado brasileiro para empresas de serviço recorrente. Somos referência em economia da recorrência e atuamos nos mercados de SaaS e Assinaturas, Condomínios, Imobiliárias e Educação.
A Superlógica também realiza o Superlógica Xperience, maior evento sobre a economia da recorrência da América Latina, e o Superlógica Next, evento que apresenta tendências e inovações do mercado condominial.