Pricing: Um checklist para sua empresa SaaS rever o preço a cada seis meses
Por Carlos Cêra
As decisões de preços são talvez as que mais direta e rapidamente impactam as empresas, afetando o volume de vendas e os recursos que elas recebem. Segundo este estudo publicado na Harvard Business Review, numa empresa com os “economics” padrões, 1% do ticket médio gera 11% a mais de lucro na sua empresa.
Por isto, a precificação deveria ser levada mais a sério do que efetivamente tem acontecido nos dias de hoje.
Segundo a Price Intelligently, as empresas gastam apenas 6h para discutir preço – durante toda sua vida. Para as empresas recorrentes brasileiras, sendo verdade este número ou não, o fato é que é fácil perceber que elas estão dedicando muito pouco tempo neste importante tema e evidentemente deixando um bom dinheiro na mesa.
É como se houvesse uma crença de que não se pode mudar o preço depois de definido pela primeira vez. Este pensamento, além de errado – pois mudar a política de preço não é (ou não deveria ser) tão complicado assim -, também tem levado as empresas a não explorar todo seu potencial.
Qualquer empresa evolui com o tempo: o time aumenta, funcionalidades novas são adicionadas, um novo serviço é criado, mais clientes contratam o produto, concorrentes novos aparecem com tecnologias disruptivas, etc. Todas essas variáveis foram consideradas na definição inicial do preço e então, conforme o tempo passa, é óbvio que o preço vai ficando defasado. Por mais inerte que seja o mercado de atuação.
Mas qual o tempo ideal para se gastar com a precificação? Depende de muitos fatores. Mas é certo que uma empresa já estabelecida deveria revisar sua política de preços a cada seis meses, pelo menos.
Rever custos e se comparar com a concorrência em termos de soluções e preços são os primeiros e mais óbvios itens a serem verificados. Uma análise para ver se a receita conseguirá financiar a aceleração do crescimento também é importante.
Upsell
Para maioria das empresas recorrentes, a mais relevante revisão deve ocorrer na estratégia de upsell. Upsell é fazer com que os clientes que já estão na base, de alguma forma, paguem mais (contratando planos mais caros ou consumindo mais). A precificação tem um grande impacto no sucesso do upsell e daí o motivo para revisar o preço pensando diretamente em upsell.
O upsell é importante porque, em negócio recorrente, a taxa de cancelamento (ou churn rate) é a métrica mais impactante no longo prazo. Não adianta conquistar clientes sem retê-los.
O upsell, por sua vez, pode provocar um efeito que chamamos de churn rate negativo – que é quando o valor conquistado de upsell compensa os valores perdidos com o cancelamento. Ou seja, o churn em vez de trabalhar contra sua empresa, trabalha a favor. É o sonho de qualquer empresa recorrente.
Não ter upsell, especialmente em um negócio B2B, indica que há um problema na precificação. Afinal, é certo que uma boa parte dos clientes estão crescendo e eventualmente podem pagar mais caro pela solução. Só é preciso descobrir como. E não é tão complicado ter e testar ideias se houver a disciplina de rever os preços semestralmente.
O preço, a grade de planos, como as funcionalidades estão divididas entre os planos, se há cobrança por consumo, número de usuários etc. são as ferramentas que a equipe comercial poderá contar para trabalhar o upsell na atual base de clientes.
Checklist semestral
Para ajudar na revisão semestral, ou para aqueles que têm um negócio consolidado no qual acreditam que a revisão não é necessária, fizemos um checklist com os principais 12 itens a serem observados.
- Qual o preço praticado por cada um dos concorrentes? O que oferecem?
- Planos anuais ajudariam a financiar o custo de aquisição de clientes? Os clientes topariam?
- Os custos subiram? Qual foi a inflação no período? Quanto isso impactou nos custos da empresa?
- Alguma tecnologia/modelo de negócio pode reduzir os custos a ponto de ser uma vantagem competitiva relevante? Algum concorrente tem tecnologia/modelo superior (e que ofereça vantagem competitiva em relação aos custos)?
- Reduzir o preço vai aumentar as vendas?
- Aumentar o preço vai diminuir as vendas?
- Criar uma taxa de adesão vai diminuir as vendas? Taxa de adesão é necessária para financiar um onboarding mais complicado?
- A política de preço tem ajudado o time de vendas e desenvolvimento a fazer a coisa certa?
- O time comercial tem usado descontos para atingir as metas?
- Há formas alternativas para evitar descontos?
- Os clientes que podem pagar mais caro estão pagando mais caro?
- Os clientes estão consumindo ou comprando mais conforme o tempo passa?
Não tome decisões de preço com base na emoção
As empresas que não estão fazendo revisões periódicas nos seus preços estão perdendo tempo e dinheiro.
Alguns negócios têm no preço sua principal estratégia de marketing. Como a Netflix. Um erro comum é achar que se tem um negócio como a Netflix – e usar a mesma estratégia de preço, só pelo hype que este tipo de empresa provoca.
O empreendedor bem preparado precisa entender a matemática por trás do seu negócio e evitar tomar decisões, principalmente de preço, levadas pela emoção de querer ser o próximo Netflix. Nem todo mundo é a Netflix. Pelo contrário, há raríssimos casos em que preço pode ser usado como marketing.
Entender a relação entre preço e volume de vendas, descobrir como fazer upsells e ajudar a financiar o custo de aquisição de clientes são fundamentais para criar uma empresa saudável, escalável e recorrente.