O que muda e o que não muda na prática com o Pix?

Por: Felipe Haguehara9 Minutos de leituraEm 26/10/2020Atualizado em 10/03/2022

No dia 5 de outubro de 2020, iniciou-se a corrida das instituições financeiras para obter o cadastro de seus clientes no novo sistema de pagamentos do Banco Central (Bacen). No entanto, ainda há muitas dúvidas da população sobre o que é o Pix e como ele entrará em suas vidas.

O primeiro anúncio oficial sobre o novo meio de pagamentos instantâneos ocorreu em junho de 2020. Desde então, negócios de todos os segmentos passaram a prestar atenção nos próximos movimentos para saber como isso os beneficiaria.

Bancos e fintechs, principalmente, tornaram sua atenção à novidade e começaram a ajustar suas infraestruturas. Ainda no mesmo mês do anúncio, o Bacen informou que cerca de 980 instituições financeiras se inscreveram para aderir ao sistema.

Os ajustes para tê-lo funcionando quando começar a operar para todos, no dia 16 de novembro, não é a única corrida. Atualmente, os esforços são para o cadastro de chaves de clientes – como você já deve ter visto no seu internet banking.

O detalhe é que para o restante da população ainda não há um entendimento claro sobre do que se trata esse novo recurso. De acordo com um levantamento da Globo, apenas 13% das pessoas entendem de fato o que é Pix.

No Superlógica Next Live 2020, Carlos Cêra, CEO do Grupo Superlógica, esclareceu diversas dúvidas sobre essa questão. Em sua palestra “O que muda e o que não muda na prática com o Pix”, ele explicou como funciona e qual será o impacto do novo meio de pagamento.

Assista a essa palestra na íntegra logo abaixo ou leia o restante do artigo!


Você verá neste artigo:

  1. O que é Pix?
    1. Por que o Banco Central criou o Pix?
  2. O que muda na prática com o Pix?
    1. Recebimento de transferências
    2. QR Code
    3. Pix por e-mail ou WhatsApp
  3. O que não muda com o Pix?
    1. Não tem DDA
    2. A forma de pagar não muda
    3. Se não tem saldo, você não paga
    4. Ainda não existirá parcelamento por Pix
    5. Outras opções permanecem viáveis
    6. Cuidado com fraudes
  4. O que há de tão especial no Pix?
    1. Saques
    2. Impostos
    3. TEDs
  5. A vez das fintechs
  6. Qual será o futuro do Pix?
    1. Open Banking
    2. Pagamentos recorrentes
    3. Parcelado

O que é Pix?

Antes de entender seu funcionamento na prática, é necessário compreender efetivamente do que se trata a novidade. “Pix é um novo método de pagamento criado e mantido pelo Banco Central”, explica Carlos Cêra.

Nele, se destacam alguns detalhes em relação aos meios que já conhecemos:

  • Funcionamento 24×7, diferente de sistemas como TED e DOC que não operam aos fins de semana;
  • O dinheiro é transferido imediatamente, sem o intervalo de dias para compensação;
  • O usuário poderá pagar com QR Code, que é compatível com qualquer smartphone;
  • Pagamento poderá ser feito utilizando chaves, não sendo necessário passar agência e número da conta.

As chaves, mencionadas no último tópico, são pré-cadastradas pelo usuário no serviço de pagamentos utilizado. Para receber um pagamento, basta o indivíduo passar uma delas ao pagador. O sistema do Pix permite às pessoas físicas cadastrarem até 5 chaves, sendo elas:

  • CPF, ideal para pagamentos a empresas e estabelecimentos comerciais;
  • Telefone – podendo ser cadastrado mais de um número;
  • E-mail – assim como o telefone, mais de um endereço pode ser cadastrado;
  • Chave aleatória – caso não queira passar seus dados pessoais, o indivíduo pode gerar um código de letras, números e símbolos.

De acordo com o Bacen, até 23 de outubro, mais de 50 milhões de chaves foram registradas.

Por que o Banco Central criou o Pix?

Com o lançamento do Pix, o Banco Central tem dois objetivos: a bancarização da população – estima-se que 45 milhões de brasileiros sejam desbancarizados – e a redução da necessidade do dinheiro em espécie.

O que muda na prática com o Pix?

Essa explicação, porém, não sana as dúvidas mais objetivas de empreendedores e cidadãos. Em sua palestra, o CEO da Superlógica focou nas mudanças práticas acompanhadas pelo Pix.

Veja as novidades trazidas por esse sistema unificado de pagamentos instantâneos:

Recebimento de transferências

O processamento de transferências entre contas via TED ou DOC, atualmente, exige planejamento até para pessoas físicas. No TED o dinheiro só cai na outra conta no mesmo dia se for feito até as 17h – quando a maioria das pessoas está ocupada com o trabalho. Já o DOC, demora um dia útil para compensar e pode demorar dois dias se for feito após as 21h59.

O primeiro destaque vai para o recebimento de transferências, que traz muitas aplicações positivas para empresas. “Ninguém mais vai precisar passar banco, agência e conta. Ninguém mais vai precisar saber em qual banco você tem conta”. E dentro disso, Cêra ainda destacou várias aplicações práticas, como:

Salário

O que normalmente acontece: empresas pedem aos novos funcionários para abrirem contas no mesmo banco a partir do qual são feitas as transferências. Esse é um procedimento comum para tornar o pagamento de salários mais barato. 

Como isso feria a competição, criou-se o sistema de portabilidade, para que os indivíduos possam passar o dinheiro às suas instituições de preferência. O Pix, no entanto, deixará tudo muito mais prático.

“Esse negócio [portabilidade] vai morrer, porque o TED vai ser barato e você vai conseguir transferir para o CPF do funcionário”, explica Cêra.

Fazer transferências

Naturalmente, o contrário também será possível, o indivíduo também poderá fazer transferências instantâneas. Da mesma forma, bastará ter uma das chaves de quem vai receber o dinheiro.

Carlos Cêra explicou isso vai funcionar com um exemplo muito bem conhecido. “Você está com um amigo no bar, rachando a conta. Tendo o número do celular dele, você vai fazer a transferência super rápido usando a agenda”.


QR Code

Um dos aspectos mais notáveis do Pix será a utilização dos QR Codes. Eles são como códigos de barras que podem ser facilmente escaneados utilizando a câmera de um smartphone.

O novo sistema trabalhará dois tipos de QR Codes, o estático e o dinâmico. Confira os detalhes:

QR Code estático

O QR Code estático será uma alternativa muito interessante para pessoas físicas, profissionais liberais e pequenos negócios. “Ele se chama estático, porque as informações que estão nele não mudam. Sendo basicamente uma chave, um identificação e um valor ali, por exemplo”, explica Cêra.

O CEO do Grupo Superlógica ainda trouxe um exemplo de aplicação prática do QR Code estático:

“Você poderá pegar aquele endereçamento, ou seja, a sua chave e imprimi-la. Por exemplo, um taxista, poderá imprimir sua chave e colar no carro. Então, quando o passageiro quiser pagar, ele vai abrir o aplicativo do banco, selecionar para pagar com Pix, preenche com o valor da corrida e apontar para o código que está colado na janela”.

QR Code dinâmico

As aplicações para o QR Code dinâmico são bem diferentes. Este traz informações diferentes geradas exclusivamente aquele pagamento, bem como informações de valor, vencimentos, juros e multas.

Para colocar, novamente, em contexto, Cêra deu o exemplo de um restaurante. O estático até poderia funcionar em um estabelecimento pouco movimentado, mas controlar o preenchimento correto em um lugar mais movimentado seria muito ineficiente. 

“No restaurante, eles vão imprimir o cupom fiscal com um QR Code dinâmico quando você pedir a conta. Você precisará só entrar no app do banco, escanear o QR Code e pagar com Pix”.

Para o pagador isso pode não fazer diferença, mas para o negócio será importantíssimo. Afinal, naquele código estará explicitado qual foi a mesa, qual a transferência e o valor fixado da conta, sem necessidade do cliente preencher o valor no aplicativo.

Outra aplicação valiosa será nas contas de consumo, como luz e água. “O boleto, principalmente nessas empresas muito grandes, pode demorar três dias identificar o pagamento. [Com o QR Code dinâmico], será muito mais rápido para religar a água ou energia, por exemplo”.

Pix por e-mail ou WhatsApp

Apesar de ser possível, não é uma viabilidade prática enviar um QR Code para outro indivíduo, afinal para escanear e pagar é necessário utilizar a câmera do celular. Por isso, existirá, também, uma alternativa para que a cobrança seja enviada por meio digital de outra maneira.

Inicialmente, a ideia era fazê-lo através de um link, mas isso caiu por questões de segurança. O novo meio será a geração de um código que pode ser pago ao copiá-lo e colá-lo no aplicativo do banco.

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O que não muda com o Pix?

Apesar de trazer grandes novidade para o mercado, o Pix não muda absolutamente tudo nas relações de pagamentos. “Obviamente, não vai ser como muitos estão falando. O Banco Central está falando claramente isso, não vai ser um meio que vai substituir todos os outros”.

Assim, antes de partir para outras características especiais do Pix, precisamos fazer uma pausa e entender o que não muda com a chegada do novo método de pagamento. Veja a seguir:

Não tem DDA

Não há um repositório central no qual ficam todos os pagamentos emitidos contra o seu CPF ou CNPJ. Ou seja, não há esse espaço único para subir todos os Pix que são emitidos.

A forma de pagar não muda

Fundamentalmente, a experiência do usuário não vai ser alterada. “Terá um QR Code, que você vai escanear, como se fosse o código de barras de um boleto”, esclarece Carlos Cêra.

Se não tem saldo, você não paga (por enquanto)

Neste momento, uma transação pelo Pix se assemelha mais com uma transação por cartão de débito do que com uma de crédito. Ou seja, você não conseguirá concluir o pagamento se não tiver saldo na conta bancária.

Assim, é improvável que em um primeiro momento os hábitos de consumo se alterem muito. De acordo com um levantamento da Morgan Stanley Research, conforme o valor da transação aumenta, mais o consumidor utiliza o cartão de crédito para compor o saldo.

“As pessoas estão acostumadas a ter um saldo que é complementado pelo limite do cartão de crédito. Então quem o utiliza nessa circunstância, vai continuar com essa preferência”, complementa Cêra.

Ainda não existirá parcelamento por Pix

Outro elemento comum das negociações também não entrará no escopo do Pix, neste primeiro momento: o parcelamento. A estimativa é que 16% dos pagamentos, hoje, sejam parcelados. Ou seja, pode-se esperar no futuro que esse tipo de recurso entre nas possibilidades do sistema do Bacen.

Outras opções permanecem viáveis

O Pix não altera a facilidade em outros tipos de pagamento. Se comparado aos pagamentos por aproximação (NFC) ou aos próprios cartões de crédito e débito, há mais etapas para concluir a transação – 5 cliques.

De acordo com Cêra, isso exigirá planejamento por parte do comerciante. “Se o lojista não tiver uma estratégia para fazer valer a pena para os pagadores, eles ainda vão preferir pagar com cartão, já que estão mais acostumados”.

E isso, de certa forma, prova que o Pix não vai substituir os outros meios de pagamento, ao menos agora. “Um comércio de tamanho razoável não vai conseguir abandonar a maquininha. Ele vai precisar ter ambos, quem sabe até uma opção na própria máquina para receber por Pix’”.

Ainda se deve tomar cuidado com fraudes

Assim como qualquer meio de pagamento e tratativas com contas bancárias, ainda será necessário se atentar à golpes. Mesmo hoje, antes de sua abertura para uso, já existem criminosos utilizando engenharia social para enganar clientes.

De acordo com a Kaspersky, empresa especializada em cibersegurança, 10 dias após a abertura do cadastro de chaves, foram identificadas 60 páginas falsas sobre Pix.

Inclusive, essa é uma das maiores preocupações dos bancos atualmente. Tanto que pediram ao Banco Central autorização para atrasar transferências se houver suspeita de fraudes. Outra medida estudada é a adoção de limites de horário, semelhante ao que acontece com saques.

Nova call to action

O que há de tão especial no Pix?

“O Pix não é só uma forma de pagamento, ele vai revolucionar a forma como lidamos com dinheiro”, afirma Carlos Cêra. O novo método de pagamento foi idealizado para desconcentrar o mercado bancário, eliminando as 3 maiores barreiras para fintechs. Que são:

Saques

Para uma fintech permitir saques é preciso fazer convênios com a TECBAN, que o deixa com preços impeditivos. No próximo passo do Pix, será possível até realizar esse tipo de operação nas redes de varejo.

Impostos

Existem impostos e alguns tipos de contas, como de luz ou água, que fintechs não conseguem viabilizar o pagamento. Assim, por mais que um negócio abra uma conta em algum banco digital, ainda será necessário manter outra aberta em bancos grandes para pagar os impostos.

Porém, o Bacen prometeu convênios com essas mesmas entidades, os grandes bancos, para realizar o pagamento de impostos via Pix.

TEDs

Os TEDs caros inviabilizam manter múltiplas contas em bancos diferentes e realizar transações entre elas. Isso beneficiava diretamente as 5 instituições mais consolidadas. Com as transferências entre pessoas físicas sendo gratuitas, abre-se a competitividade para as fintechs.

A vez das fintechs

As iniciativas do Banco Central, como já mencionado acima, são exclusivamente para trazer mais competitividade no mercado bancário. Não apenas o Pix, mas também o avanço nas fases de implantação o Open Banking, há uma série de medidas que em breve permitirão mais segurança e serviços melhores e mais customizados aos clientes.

E quem está no primeiro pelotão dessa inovação são as disruptoras do ramo financeiro. “O Banco Central está fazendo uma grande energia para diminuir a concentração nos bancões. Então é preciso dar um voto de confiança para essas empresas. Será um grande desperdício se você não mudar para uma fintech”, explica o CEO do Grupo Superlógica.

Qual será o futuro do Pix?

Com o avanço do sistema de pagamentos instantâneos, existem outras etapas que entrarão no cronograma do Bacen. Nesta sequência, Carlos Cêra destacou três passos futuros:

Open Banking

Este é um sistema que permitirá o compartilhamento de dados e informações financeiras entre instituições. “Mediante a autorização do cliente, se ele quiser compartilhar a informação com outro banco, será possível. E isso cria uma situação super interessante”, explica Cêra.

Ele ainda complementou com um exemplo prático. “Se você vai pedir empréstimo, vai ao banco com o qual tem relacionamento, pois ele tem seu histórico e, em tese, pode lhe oferecer uma taxa melhor. Mas imagine se você puder compartilhar esse histórico com outro banco? O outro poderá cobrir a oferta, criando mais competição [dando mais possibilidades ao cliente”.

Pagamentos recorrentes

Esse mantém relação com Open Banking. Seria algo semelhante a um débito automático, com o pagamento de contas que ocorrem mensalmente dessa maneira ou com uma base de dados centralizada (como um DDA).

Ou seja, faz-se a autorização do compartilhamento de dados e a permissão para o pagamento recorrente, através da instituição. E se utiliza o sistema de pagamentos instantâneos para quitar o débito.

Parcelado

Em outra etapa, será possível realizar compras parceladas com a garantia de uma instituição que honrará o pagamento. “Você terá um [pagamento via] Pix pré-autorizado. E vai ter alguém que vai garantir isso, mesmo que você não tenha saldo”, explica Carlos Cêra.

Para finalizar, Carlos Cêra, comentou sobre como o Pix funcionará no mercado imobiliário e condominial. Quer conferir como essa novidade impacta a sua empresa? Assista à palestra exclusiva do CEO! 

Para conferir essa e todas as outras palestras do Superlógica Next Live, clique na imagem abaixo!

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