Bootstrapping: como construir uma empresa sem financiamento externo

Por: Heitor Facini6 Minutos de leituraEm 14/11/2018Atualizado em 27/11/2019

No Brasil, houve um crescimento significativo da atividades de fundos de investimento de Venture Capitals (capital de risco) nessa década. De acordo com o estudo da Ace Startups, o número de valor investido por essa modalidade era de R$ 35 milhões em 2010 e chegou a R$ 2,188 bilhões em 2017. São mais de 600 vezes mais em 7 anos. Mas, mesmo assim, se formos comparar com o mercado norte-americano, é um número baixo. No primeiro quadrimestre de 2018, foi investido US$ 30 bilhões no país. Isso, na conversão do dia 13 de novembro de 2017, daria algo em torno de R$ 114 bilhões, mais de 50 vezes mais. Por isso, no Brasil, a principal forma de se empreender é com recursos próprios, dinheiro do próprio bolso. Isso tem um nome, se chama bootstrapping.

Normalmente, quando se fala neste termo, relacionam com o fato de construir um negócio sem levantar capital externo. Sathish Bala acredita que ele é reducionista e que ele indica que, no momento que você consegue o dinheiro, você não precisaria ser mais “bootstrap”. Essa concepção está errada. “Eu defino de maneira diferente. É sobre tomar as decisões certas que o permitirão ter um respiro financeiro mais longo e te dar uma chance de ser bem sucedido”, declarou.

Em quase duas décadas empreendendo, Sathish teve sucesso criando 3 empresas lucrativas e saindo delas, seja para venda ou para outra oportunidade maior. Hoje, está como CEO na Verse Music App, um SaaS (software como serviço) para conectar músicos ao redor do mundo.

Ele participou do Superlógica Xperience 2018 e apresentou a palestra “Bootstrapping to success: como fazer seu negócio sem financiamento”. Abaixo, você pode conferí-la na íntegra com legendas e acompanhar um artigo com os principais pontos dela. Durante o texto, existe um formulário para uma newsletter que traz tudo que você precisa saber sobre gestão e economia da recorrência. Por fim, preencha com seu e-mail ao final do texto e receba o PDF da apresentação de Sathish.

Bootstrapping é uma filosofia

Muito mais do que uma questão financeira, bootstrapping é uma filosofia, para Sathish Bala. Segundo ele, ela envolve alguns pilares:

  1. Pouco investimento: Sathish fala que, assim como na realidade brasileira, na realidade do Canadá, país que ele vive, existem poucas oportunidades de captação de capital externo. Por isso, praticamente todas as empresas que surgem no país seguem esse mesmo modelo.
  2. Construa instintos fortes: com pouco dinheiro disponível, você vive uma correria desde o dia 1 de empresa. Por isso, você tem que ter um instinto que o proíba de cometer erros bobos – o que pode ser fatal;
  3. Foco nos clientes que pagam: desde o primeiro dia, a sua empresa precisa pensar naquelas pessoas que colocam dinheiro para dentro dela. Por isso, o foco no cliente é tão importante. O fit com o mercado deve ser encontrado de maneira rápida e assertiva, pois não há capital para gastar falhando;
  4. Faça um planejamento grande e otimizado: um dos ensinamentos que ele teve, foi de planejar bem as coisas que queria fazer com a empresa dele. Por causa do pouco dinheiro, ele precisava deixar esse roadmap bem otimizado e encaixado com o que o mercado precisava;
  5. Você tem que fazer as coisas da maneira certa: esse é o ensinamento final da cultura. Você não tem uma possibilidade de errar, já que seu recurso é escasso. Toda e qualquer ação devem ser pensadas assertivamente.

“Tenho diversos negócios, desde um festival de música até uma marca de moda. Essa cultura me propicia fazer as coisas de maneira bem sucedida”.



Entenda o porquê daquilo que você está fazendo

A grande sacada no bootstrapping está em entender o seu porquê. Para isso, ele apresentou um diagrama em sua palestra.

O diagrama, em formato de alvo, seria composto de 3 camadas. No centro estaria o “porquê”, que, segundo mostrado, indica “por que você faz isso? Qual o seu propósito?”; Depois, a segunda camada é o “como”, que indica “como você faz isso?”. A última camada seria o “o que” e indica “o quê você vai entregar com isso”.

“É muito mais importante entender qual é o problema que você vai resolver e não o que você vai fazer. O ‘o quê’ vai mudar com o tempo, mas é importante continuar aliviando a dor do cliente”.

Não compre coisas novas

Uma das coisas que ele percebeu errando é que gastar dinheiro com coisas novas vai acabar sendo um desperdício. Ele diz isso de equipamentos, móveis e qualquer coisa relacionada a estrutura física da empresa.

“Existem diversas empresas que não prosperam e precisam vender aquilo que acabaram de comprar. Se já no momento da compra, o valor do produto diminui entre 40% e 50%, depois de um tempo você pode acabar fazendo um negócio incrível”.

Tente levar o maior tempo possível sem contratar ninguém

Outro ensinamento que Sathish trouxe para a palestra foi que, se você tem uma empresa no formato de bootstrapping, você tem de adiar ao máximo gastar dinheiro contratando pessoas. “Há diversos custos embutidos como treinamento, seleção e os encargos para tal. Se der errado, vai precisar repetir todo o processo”.

Por isso, ele aconselha seguir com os fundadores e número mínimo de pessoas pelo maior tempo possível. Isso trará uma margem de tempo e financeira longa para você poder investir em inovação.

Entretanto, contrate um contador desde o princípio

Sathish não era uma pessoa que entendia o dinheiro, já que a sua formação foi no âmbito da computação. “Você precisa saber todos os dias como o seu dinheiro é gasto. É necessário conhecer e entender muito bem o fluxo dele e as métricas relacionadas a tal”.

Não é preciso que você saiba necessariamente tudo sobre dinheiro, mas você precisa ter alguém que saiba isso para você. Por isso, a primeira pessoa que você precisa contratar para a sua empresa é um contador.

Ofereça descontos para quem pagar mais cedo

Normalmente, existe um senso comum de que se você pedir para os seus clientes pagarem adiantados e oferecer descontos para tal, eles acharão que você está com problemas financeiros. “É um conceito falho, pois quando você oferece esses descontos, o dinheiro continua entrando”.

Segundo Sathish, quanto antes você colocar a mão no dinheiro, mais rápido fica o seu crescimento. “É bom às vezes reduzir a margem de lucro para o fluxo de caixa ficar mais rápido para ganhar fôlego e construir o seu negócio”.

Não há problemas em dizer para o cliente que você quer o dinheiro mais rápido e oferece um benefício para isso. “Os clientes aceitam bem isso. Eles querem desconto e você quer o dinheiro deles. Ou seja, dá para achar um denominador comum”.

Ele garante que, da mesma forma que você tem de estar disposto a oferecer descontos, você tem de estar disposto a pedí-los. “A maioria dos meus fornecedores eu pago menos do que o valor original”.

Economize nas despesas pessoais

Um dos erros clássicos quando se junta algum dinheiro é acreditar que já se deve comemorar. Sathish tem uma regra pessoal de manter um estilo de vida por pelo menos 2 anos e depois reavaliá-lo. Nesses dois anos ele não aumentará os seus gastos, não importando o que aconteça na sua vida profissional.

“Isso maximiza minha margem! Eu consigo focar nas minhas despesas pessoais e não ser surpreendido com nada. A partir disso, o seu crescimento pessoal acaba sendo maior e o das suas empresas também”.

Utilize o coworking o tanto que for possível

Nos últimos anos, os coworkings, espaços de trabalho compartilhado, se popularizaram muito. “Eles trazem uma economia enorme em aluguel, mobília e alguns serviços que você teria de arcar tendo o seu próprio lugar”.

Além disso, coworkings são incríveis espaços de networking e trocas de experiências. Lá, você mantém contato com pessoas que não teria a oportunidade de manter se não estivesse naquele espaço. “São pessoas diferentes, conhecimentos diferentes sendo compartilhados”.

Baixe suas expectativas

Normalmente, quando se cria um negócio, o dinheiro demora muito para entrar. Não adianta esperar que o seu produto seja incrível o bastante que ele viralize e te traga milhões desde o primeiro dia.

“Se desistirmos no primeiro dia, provavelmente teríamos perdido muito capital logo de cara pois o produto era realmente bom”. Por isso é importante desmembrar sua ideia gigante em pequenos pedaços para que ela possa ser executada da melhor forma.

Foque no seu lucro

A última lição que Sathish trouxe para o Superlógica Xperience 2018 é focar no lucro. “Se ninguém quiser pagar pelos seus serviços no primeiro ano, é bom repensar se você realmente está resolvendo um problema. É necessário que você resolva na proporção de que milhares queiram comprar o que você oferece”.

Desde o início, você precisa buscar a receita com aquilo. É sempre importante focar na tração da sua empresa, aprender com os feedbacks que o mercado e o planejamento te dão e entender como você pode melhorar o seu serviço ou realmente deixá-lo de lado.

Mas isso não significa ser anti ético e pagar pouco a seus funcionários. “Bootstrapping não é sobre explorar pessoas e nem passar ninguém para trás. É sobre juntar dinheiro, ter controle e conseguir alcançar o sucesso assim”.

Sobre a Superlógica

A Superlógica desenvolve o software de gestão (ERP) líder do mercado brasileiro para empresas de serviço recorrente. Somos referência em economia da recorrência e atuamos nos mercados de SaaS e Assinaturas, Condomínios, Imobiliárias e Educação.

A Superlógica também realiza o Superlógica Xperience, maior evento sobre a economia da recorrência da América Latina, e o Superlógica Next, evento que apresenta tendências e inovações do mercado condominial.



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