Streaming esportivo: como o modelo Netflix está vencendo a TV a cabo

Por: Heitor Facini7 Minutos de leituraEm 23/11/2017Atualizado em 09/10/2020

Em 2017, o Super Bowl comprovou uma tendência: cada vez mais pessoas estão deixando de acompanhar eventos esportivos por TVs tradicionais e passando a acompanhar via Smart TVs, computadores e smartphones. A audiência da edição 51 do maior evento esportivo do mundo via streaming chegou a 1,72 milhão de espectadores por minuto. Isso é 23% maior que a de 2016 (1,42 milhão), e 115% maior que em 2015 (800 mil). Os números mostram que a economia da recorrência está definitivamente conquistando os fãs de esporte. E tem mais. De acordo com pesquisa do Centro para o Futuro Digital da escola de comunicação e jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia, dos Estados Unidos, 63% das pessoas pagariam para ter canais de streaming de esportes. Destes, 56% estão dispostos a desembolsar uma quantia maior para canais de streaming em relação ao que gastam com canais de TV a cabo.

A TV a cabo vem enfrentando uma grande rejeição por parte dos consumidores. De acordo com pesquisa realizada em abril de 2016 pelo Instituto MeSeems, em parceria com a Exame, 55% dos assinantes de TV paga consideram a mensalidade muito cara pelo conteúdo oferecido. Os valores dos pacotes variam de R$ 50 a R$ 150, enquanto o pacote mais barato do Netflix custa R$ 19,90.

Com base nisso, 26% dos clientes das provedoras de TV a Cabo pretendiam cancelá-la nos próximos seis meses e 33% estavam em dúvida se faziam isso ou não. No caso da Netflix, esse número era apenas de 3%.

Nova call to action

Gigantes do mercado estão de olho no streaming de esportes recorrente

Grandes empresas estão de olho no mercado de streaming esportivo Over The Top (OTT), aquele que não precisa de intermediários como a TV a cabo para ser acessado. O CEO da Disney, Bob Iger, anunciou um aplicativo da ESPN para transmissão de eventos esportivos. O  ESPN+, como é chamado, tem previsão de lançamento entre o segundo e terceiro trimestres de 2018. A ESPN faz parte da Disney desde 1995.

“O produto será acessível por meio de um aplicativo completamente novo e permitirá aos usuários acessar o conteúdo de nossos canais. Ele oferecerá muito mais do que eles conseguem ver em qualquer outro lugar,”, declarou Iger durante a divulgação de relatório fiscal no dia 10 de novembro. Além disso, ele afirmou que o app transmitirá diversos eventos esportivos ao vivo.

 

Não foi divulgado quais serão os preços e formas de pagamento. Mas Bob Iger garantiu que, como terá menos conteúdo, será mais barato que a assinatura de Netflix e outros serviços.

Um dos grandes motivos para a ESPN apostar em novos mercados é a perda de assinantes e consequentemente de renda. Entre 2013 e 2015 a emissora norte-americana perdeu cerca de 7 milhões de clientes nos Estados Unidos, o que representou US$ 1,3 bilhão em receita. Se voltarmos um pouco mais, até 2011, o número assusta mais ainda. Naquele ano eram 100 milhões de assinantes. Em 2017 é 87 milhões.

Nova call to action

A situação não é exclusividade da ESPN e nem dos Estados Unidos. De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, a queda no número de assinantes em todos os serviços de TV a cabo no Brasil é alta. Em 2014, o país tinha 19,6 milhões de assinantes dos serviços. Em maio de 2017, esse número era de 18,6 milhões. A previsão é que a retração até o fim de 2017 seja de 1 milhão.

Amazon investe no futebol americano e no tênis

Esse não foi o primeiro movimento de uma grande empresa mundial para se instalar no mundo do streaming esportivo. A Amazon, no fim de setembro de 2017, havia começado a transmitir jogos da NFL através do Prime Video para seus assinantes em mais de 200 países atingindo um público de 370 mil pessoas.

Ao todo, a gigante do comércio varejista online negociou com a liga de futebol americano dos Estados Unidos a transmissão de 10 jogos de quinta-feira da temporada regular. Os valores dos acordos, entretanto, não foram divulgados.

 

Além do futebol americano, a Amazon também vai transmitir a partir de 2019 partidas de tênis. A empresa fechou um acordo com a ATP, Associação dos Tenistas Profissionais, e vai realizar o streaming de 37 eventos do circuito profissional até 2023.

Grandes ligas entregam streaming esportivo recorrente para os fãs

O movimento também vem das grandes ligas de realizarem a entrega do conteúdo diretamente para o fã. A NFL, liga de futebol americano, transmite todos os jogos da temporada por R$ 264,99 por ano; a MLB, liga de baseball, oferece todos os jogos da temporada por US$ 24.99 ao mês; a NHL, de hockey, custa US$ 19,90 por mês; e a ATP, através da Tennis TV, cobra US$ 14,99 por mês por todos os jogos da associação de tenistas profissionais.

As transmissões das ligas mencionadas acima são distribuídas mundialmente. E para as cobranças feitas em dólar, a única exigência, claro, é ter um cartão de crédito internacional para pagar a assinatura. Como o preço é calculado com base na cotação do dólar, ele será variável, conforme o valor muda.

Como está a oferta de streaming esportivo no Brasil?

No Brasil, a oferta de streaming esportivo recorrente ainda é tímida. São poucas empresas que a fazem. Entre as poucas iniciativas estão Esporte Interativo, que já vem apostando no streaming há mais de 4 anos, e NBA League Pass, nascido de uma liga que vem apostando no crescimento e popularização no país.

Esporte Interativo foi pioneiro no mercado brasileiro

O Esporte Interativo – um dos canais mais recentes da TV aberta brasileira, criado em 2007, – foi pioneiro no mundo do streaming esportivo OTT. Em 2012, ele lançou o EI Plus.

O El Plus se diferencia do conteúdo da TV aberta, pois transmite jogos exclusivos e conteúdos produzidos especialmente para a plataforma. Os usuários também podem assistir em tempo real os jogos que passam na TV aberta (onde o sinal não está disponível para todas as cidades do país) e assistir a arquivos de dias anteriores.

São dois planos de assinatura com acesso ao mesmo conteúdo:

  • Anual: R$ 9,90 por mês e tem um ano de carência;
  • Mensal: R$ 14,90 e pode ser cancelado a qualquer momento.

O serviço tem a transmissão dos melhores jogos da Copa do Nordeste, Copa Verde, Séries C e D do Campeonato Brasileiro, Campeonato Português, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Maranhão, Piauí e do Rio Grande do Norte e do Brasileirão de Aspirantes.

 

Entretanto, o grande chamariz é a transmissão da Champions League, mais importante torneio de clubes europeus. O canal conseguiu os direitos de transmissão do campeonato em 2014, vencendo a concorrência de SporTV, do grupo Globosat, e da ESPN, da Disney. Isso aconteceu um ano após a Turner, empresa dona de canais como a CNN, Cartoon Network, Boomerang e TNT, colocar um aporte de R$ 80 milhões no EI e um ano antes de comprá-lo por R$ 400 milhões.

Assim, o Esporte Interativo é o único no Brasil a exibir na íntegra a mais importante competição de clubes do mundo. Em dia de rodada da Champions League, o EI Plus chega a transmitir 11 partidas simultâneas.

Além do futebol, esportes eletrônicos, MMA, futsal, automobilismo e esportes olímpicos também estão na grade de programação. O serviço pode ser acessado tanto pelo computador quanto por smartphones, smart tvs e chrome cast.

NBA League Pass: streaming esportivo e liga crescem no Brasil

Lembra que no início citamos a inovação das ligas norte-americanas na transmissão de eventos esportivos diretamente para o consumidor? Uma delas vem dando certo aqui no Brasil, a liga de basquete norte-americana, a NBA.

A NBA inaugurou o escritório no Brasil no ano de 2012 com o intuito de aumentar a popularidade da liga aqui. Desde lá, a exposição dela no país aumentou muito. De acordo com dados do Ibope Repucom, existem 70 milhões de brasileiros que são super fãs de esportes. Destes, 13% são amantes do basquete, o que equivale a aproximadamente 9 milhões.

Muito disso se deve ao que é chamado de tropicalização do conteúdo. Arnon de Mello, vice-presidente de operações da liga na América do Sul, informou no evento Connect Samba 2017, que a equipe de comunicação busca pautas para entregar aos meios de comunicação brasileiros diariamente. O critério é a importância que aquela notícia tem para os fãs locais. Um dos exemplos foi no ano passado no jogo entre Golden State Warriors e Los Angeles Lakers, onde o brasileiro Marcelinho Huertas, na época no Lakers, foi eleito o melhor do jogo. Essa notícia não repercutiria nos Estados Unidos. Mas aqui ela é importante.

 

Tudo isso resultou no Brasil ser um dos principais mercados para o NBA League Pass em escala mundial. Até os playoffs da temporada 2016/17, o Brasil era o 8º com maior número de assinantes no mundo.

Uma parceria fez esse número crescer. No dia 24 de abril de 2017, foi anunciado um acordo entre a liga e a VIVO. Assim, os clientes da operadora teriam desconto na hora de assinar o League Pass. Isso fez com que o Brasil se tornasse o terceiro maior em número de assinantes no mundo todo.

Hoje são oferecidas 3 modalidades de assinatura:

  • Game Choice – R$ 159,90 por ano: você pode escolher até 8 jogos por mês para acompanhar;
  • Team Choice – R$ 159,90 por ano: você escolhe um time e assiste todos os 82 jogos dele na temporada regular;
  • League Pass – R$279,99 por ano: todos os jogos da temporada e acesso a NBA TV com conteúdo exclusivo 24h por dia;

Clientes VIVO tem acesso aos 3 planos (todos com acesso a NBA TV):

  • Básico Semanal – R$ 3,99 por semana: você tem direito a um jogo por semana;
  • Básico Mensal – R$ 9,90 por mês: você tem direito a um jogo mensal;
  • Premium – R$ 19,90 por mês: todos os jogos, incluindo playoffs e finais;

Qual o potencial do streaming?

Mesmo que o mercado brasileiro ainda esteja engatinhando em relação ao streaming esportivo – e de outros mercados também -, alguns indícios já mostram que ele tem potencial para ser gigante. O primeiro ponto é que o brasileiro já está massivamente acostumado a assistir partidas e ligas esportivas do conforto da casa. Pesquisa realizada pelo SPC Brasil, Serviço de Proteção ao Crédito, e a CNDL, Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas, aponta que 83% dos entrevistados prefere assistir os jogos em casa.

E esse caminho, sair da TV tradicional (seja de sinal aberto ou a cabo) e partir para o streaming, parece sem volta.  Afinal, entre os que não usam TV a cabo, 74% não têm a intenção de fazer uma assinatura.

O modelo streaming está vindo como avalanche. Temos visto o crescimento estrondoso de empresas como Netflix desbancando os tradicionais conglomerados.

Uma pesquisa realizada pelo Google em 2017 aponta que o streaming no geral aumentou consideravelmente de 2014 a 2017, passando de 8,1 horas semanais para 15,4, com 90,1% de crescimento. Na contramão, o consumo de TV aberta e fechada subiu bem menos,de  21,9 horas semanais para 22,6.

O instituto Digital TV Research Limited de Londres, especializado em inteligência de mercado para TV Digital, também fez algumas previsões de qual vai ser o impacto do mercado de streaming no mundo. Segundo ele, em 2021, o mercado global de streaming vai gerar um receita de US$ 64 bilhões. Destes, US$ 42 milhões virão de mercados de fora dos Estados Unidos. Em 2021, o número de pessoas que assinam serviços por de vídeo on demand vai ser tão grande que vai superar a população de um país do tamanho do Brasil. A previsão é que o número chegue a 383 milhões no mundo todo.

Logo, quem se antecipar tem grandes chances de conquistar uma parcela de público que pede por um streaming de qualidade. Para não perder de vez esse jogo, a TV a cabo precisa correr para se reinventar. 



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